Serra da Cantareira

serra ao norte da cidade de São Paulo

A Serra da Cantareira é uma serra brasileira localizada ao norte da cidade de São Paulo, com 64 800 hectares de área.[2] Abrange os municípios de São Paulo, Guarulhos, Mairiporã e Caieiras, separados pela Serra da Pirucaia.

Serra da Cantareira
Serra da Cantareira
Vista da cidade de São Paulo a partir do Núcleo da Pedra Grande
Localização
Localização*São Paulo (Zona Norte)
*Guarulhos
*Mairiporã
*Caieiras

São Paulo
País(es) Brasil
Características
Altitude máxima1 215[1] m
(3 724 pés)

Sua encosta sul pertence ao Parque Estadual da Cantareira, reserva possuidora de 7 916 hectares — o equivalente a 8 mil campos de futebol —, sendo, portanto, uma das maiores florestas urbanas do planeta, e faz parte da Reserva da Biosfera do Cinturão Verde da cidade de São Paulo pela UNESCO.[3] Apresenta também normas rígidas de preservação da mata atlântica nativa, portando poucas trilhas.[4]

Já na face norte, em Mairiporã, encontram-se diversos bairros nobres, condomínios de alto padrão e estradas e trilhas destinadas à pratica de Mountain Bike.[4] As partes mais altas encontram-se nos distritos de Brasilândia (1 208 m), Perus (1 201 m), Tremembé (1 190 m)[5] e Cabuçu de Cima (1 186 m)[6] em Guarulhos.

História

Nos séculos XVI e XVII a região era a rota dos tropeiros, comerciantes que se deslocavam por meio de carretas puxadas por muares e cavalos.[7] Estabeleciam o comércio entre a cidade de São Paulo e outras regiões do país, em especial Minas Gerais e Goiás. Esses armazenavam seus estoques de água em jarros chamados cântaros, colocados em prateleiras chamadas de "cantareira", razão do nome da serra.[7]

Santana, distrito da Zona Norte paulistana, e a Serra ao fundo

Anos depois grande parte da floresta nativa foi derrubada para o cultivo de café, erva mate e cana de açúcar. O êxodo rural e as imigrações causaram um grande crescimento populacional na cidade de São Paulo.[7] No século XIX a futura metrópole sofreu de graves problemas no abastecimento de água. Por meio de estudos geológicos percebeu-se que a solução do problema viria da utilização do Ribeirão da Pedra Branca, localizado na serra.[7]

Devido à sua proximidade com o reservatório da Consolação, houve a captação de água dessa localidade. Para a construção dessa estação de abastecimento houve a criação da linha férrea do Tramway Cantareira, o Trenzinho da Cantareira, imortalizado na canção de Trem das Onze de Adoniran Barbosa.[8]

Inicialmente era utilizada para locomoção de trabalhadores e materiais de construção e pouco tempo depois de aberta começou também a transportar passageiros para os bairros da periferia da cidade, fator que causou o desenvolvimento e povoamento da Zona Norte.

Ao mesmo tempo o Governo desapropriou diversas propriedades rurais visando recuperar a mata devastada pela agricultura e manter preservados os mananciais de água para garantir das represas Engordador, Barrocada e Cabuçu. Anos depois a natureza se recompôs, voltando ao seu estado original. Iniciado em 1909 o sistema de abastecimento fornecia água para quase 80% da capital.[7]

Em 1963 a região da Serra tornou-se Reserva Florestal, já em 1986 grande parte da mesma transformou-se no Parque Estadual da Cantareira, unidade de preservação. Em 1993 a Reserva da Biosfera do Cinturão Verde de São Paulo, da qual faz parte, foi reconhecida pela UNESCO como parte integrante da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica.[9]

Desastres aéreos

A serra já foi palco de diversos acidentes aéreos emblemáticos. O primeiro foi em 24 de março de 1938, quando um Junkers Ju 52 chocou-se contra a serra, matando todas as 5 pessoas que estavam no avião. Três anos depois, no dia 12 de agosto de 1941, o avião em que estava o engenheiro e político brasileiro, ex-presidente da CBF, o senhor Álvaro Catão se chocou contra a montanha da serra, levando-o à morte. Já no dia 18 de março de 1977, o avião em que viajava o piloto de F1 José Carlos Pace, um pequeno monomotor de propriedade do também piloto Marivaldo Fernandes, bateu numa árvore na Serra da Cantareira, município de Mairiporã, após decolar do Campo de Marte no início de uma violenta tempestade, tendo Pace morte imediata.

Em 2 de março de 1996, às 23h16min, um avião Learjet 25, pertencente a uma empresa de táxi aéreo, chocou-se contra um dos morros da serra, matando todos os integrantes da banda de rock cômico Mamonas Assassinas, que estavam no avião.

Em 2 de dezembro de 2019, às 09h22min foi registrada a ocorrência sobre a queda de uma aeronave bimotor, modelo King Air, de prefixo PP-BSS nas proximidades da Estrada de Santa Inês com a Estrada da Roseira, próximo da divisa dos municípios de São Paulo e Mairiporã.[10][11]

Algumas personalidades brasileiras de diversas áreas de atuação moram ou moraram na região como: Ayrton Senna,[12] Gianfrancesco Guarnieri,[13] Hilda Hilst, Maria Adelaide Amaral,[14] Rita Lee,[15] Arnaldo Baptista,[16] Renato Teixeira,[17] Jayme Monjardim,[18] Almir Sater,[19] Vanusa, Antônio Marcos, Elis Regina,[20] Norma Blum,[21] Zé Geraldo,[22] Sérgio Reis, [17] Lívia Andrade [23]e os próprios Mamonas Assassinas.

Natureza e geografia

Tucano-de-bico-verde no Parque da Cantareira. A Serra abriga 200 espécies de aves, quase o dobro da avifauna da França.[24]

Possui cobertura vegetal de mata atlântica além de diversidade de fauna e flora, sendo tema de pesquisas e trabalhos acadêmicos.[24] Muitos animais selvagens, característicos da mata, são vistos nas proximidades das luxuosas residências, como: macacos, bichos-preguiças, cobras, veados-mateiros, caxinguelês, quatis, jacus, alguns são raros e ameaçados de extinção, como: a onça parda, o gato do mato pequeno, o sagui da serra escuro e a jaguatirica. Segundo Marcio Port Carvalho, pesquisador científico do Instituto Florestal, na Cantareira estão 45% das espécies de médios e grandes mamíferos de todo o estado de São Paulo e 14% do Brasil.[25]

Macuco, visto no Parque Estadual da Cantareira.

Abriga cerca de 200 espécies de aves, dentre elas: o tucano-de-bico-verde e o macuco, além de diversas espécies de árvores, como o jacarandá-paulista, cedro-rosa, ipê e araucárias.[24]

É uma região montanhosa de serras alongadas que apresenta vales, mirantes, pedreiras, represas, lagos artificiais, rios e riachos. Contém mananciais que produzem 33 mil litros de água por segundo,[26] além de ser a nascente de diversos córregos como o Cabuçu de Baixo. A vegetação é preservada nas áreas de maior altitude e de proteção ambiental.[24] Suas altitudes variam entre 750 a 1 215 metros.[24]

Apresenta o clima Tropical Úmido Serrano da Cantareira – Jaraguá com temperatura média anual de 18,2 °C; aproximadamente de 1 a 2 graus a menos do que a cidade de São Paulo, e precipitação média anual de 1 400mm.[24] É subdividido em dois mesoclimas: (IIA1) os maciços e serras da face meridional da Cantareira e Jaraguá, onde está inserido o Parque da Cantareira, e (IIA2) os maciços e serras da face setentrional da Cantareira e Jaraguá, ocupando os topos voltados para a Bacia do Juqueri.[27]

Vista do Pico do Olho d'Água, ponto mais alto da cidade de Mairiporã e ao fundo a Serra da Cantareira e a Zona Norte paulistana.

Além disso, tem sido popularmente difundida a ideia de que a Serra da Cantareira, com seus 64 800 ha, possui a maior floresta urbana do mundo.[28][29][30][31][32][33] Entretanto, há outras florestas também importantes, como a do Parque Estadual da Pedra Branca (12 500 ha), que, apesar de ser menor que a Cantareira, sua área florestal não pertence (assim como não compartilha com) a outras cidades da Grande São Paulo como a 'Cantareira' pertence (compartilha).[34]

Atualidade

Localizada a 20 km do marco zero da cidade de São Paulo[1] a Serra é uma atração turística paulista devido aos seus parques, trilhas, cachoeiras e construções históricas. Apresenta também áreas destinadas à realização de eventos, principalmente casamentos.[35]

Ocupação irregular em região periférica de São Paulo, próxima à Serra.

A região é alvo do mercado imobiliário, que desenvolve projetos de alto padrão em virtude da arborização local. Seus principais bairros nobres estão localizados na cidade de Mairiporã,[36] porém no sopé paulistano e suas adjacências há um crescimento desse tipo de loteamento, em especial no distrito do Tremembé, uma das regiões paulistanas que mais se valorizou nos últimos anos.[37]

A Serra sofre atualmente diversos impactos e ameaças como as ocupações irregulares, desmatamentos e despejo ilegal de lixo e entulho.[38] Devido a essas ocupações a região ganha no ano de 2010 o monitoramento por satélite, que mapeia em tempo real os locais em que há suspeita de ocorrência de crimes ambientais. Esse projeto é desenvolvido pela Polícia Ambiental paulistana, sendo completamente digital. Os policiais terão notebooks com todas as informações necessárias para verificar se os locais suspeitos estão regularizados.[39] Para construir uma casa é necessário o licenciamento ambiental que deve ser feito no Departamento Estadual de Proteção de Recursos Naturais (DPRN).

Loteamento encravado na Serra, município de Caieiras.

Além do Parque Estadual da Cantareira, há o Parque Estadual do Jaraguá, que se localiza em torno do Pico do Jaraguá, que é considerado o ponto mais alto da cidade de São Paulo. Além de dois novos parques estaduais, equivalentes a área de 35 parques Villa Lobos, que serão destinados à pesquisa e ao ecoturismo.[40]

Há projetos de construção de cinco pequenas usinas hidrelétricas na Serra e adjacências, fato que atemoriza os prefeitos, ambientalistas e agricultores, devido aos possíveis impactos ambientais. Causando uma mobilização contrária ao projeto da Companhia de Saneamento Básico de São Paulo (Sabesp).[41] Outras polêmicas foram geradas nos últimos anos, como a autorização legal para a construção da sede de um grupo religioso, um complexo arquitetônico em estilo ítalo-provençal situado num terreno de 96 176 metros quadrados de pastos de um antigo haras e mata nativa [42] e de um pequeno shopping, localizado a 14 metros de uma área de preservação.[43] Corre sério risco de degradação ambiental, juntamente com o Parque do Horto Florestal, com a construção do Trecho Norte do Rodoanel Mário Covas. Especula-se que a obra viária pode comprometer o Sistema Cantareira, afetando o abastecimento de água da cidade de São Paulo.[44][45][46]

Panorama da face sul da Serra da Cantareira, com Zona Norte e distrito de Santana.

Ver também

Notas e referências

Ligações externas

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