Síndrome do X frágil

doença genética caracterizada por deficiência intelectual ligeira a moderada

Síndrome do X frágil (SXF) é uma doença genética caracterizada por deficiência intelectual leve a moderada.[1] Trata-se da principal síndrome hereditária de deficiência intelectual[3]. O quociente de inteligência médio nos homens com a síndrome do X frágil é inferior a 55 e cerca de 2/3 das mulheres apresentam deficiência intelectual.[4][5] Entre as características físicas mais comuns estão orelhas grandes e salientes, queixo e testa proeminentes, articulações flexíveis e testículos grandes.[1] Cerca de um terço das pessoas afetadas apresenta características de autismo, como dificuldades de interação social e atraso na fala[1] e cerca de 2% a 5% dos autistas podem ter a SXF[6]. A hiperatividade é comum e em cerca de 10% dos casos ocorrem crises epilépticas.[1]

Síndrome do X frágil
Síndrome do X frágil
Rapaz com orelhas grandes e salientes características da síndrome do X frágil
SinónimosSíndrome de Martin–Bell,[1] síndrome de Escalante
EspecialidadeGenética médica, pediatria, psiquiatria
SintomasDeficiência intelectual, orelhas grandes e salientes, queixo e testa proeminentes, articulações flexíveis, testículos grandes[1]
ComplicaçõesSinais de autismo, crises epilépticas[1]
Início habitualPerceptível por volta dos 2 anos[1]
DuraçãoCrónica[2]
CausasGenéticas (ligada ao X dominante)[1]
Método de diagnósticoExames genéticos[2]
TratamentoCuidados de apoio, intervenção precoce[2]
Frequência1 em 4000 (homens), 1 em 8000 (mulheres)[1]
Classificação e recursos externos
CID-10Q99.2
CID-9759.83
CID-111524287677
OMIM300624
DiseasesDB4973
MedlinePlus001668
eMedicine943776
MeSHD005600
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A síndrome do X frágil é uma herança ligada ao X dominante.[1] É geralmente causada por uma mutação do gene FMR1 no cromossomo X.[1][3] Esta mutação resulta em deficiência da proteína FMRP, que é fundamental para o normal desenvolvimento das ligações entre neurônios.[1] O diagnóstico requer a realização de exames genéticos para determinar o número de repetições CGG no gene FMR1.[7] Um resultado normal indica entre 5 e 40 repetições, enquanto na síndrome do X frágil o número de repetições é superior a 200.[1] Quando o número de repetições está entre 40 e 200, diz-se que está presente uma pré-mutação.[1] As mulheres com pré-mutações apresentam um risco acrescido de ter filhos com a síndrome.[1] Os casos de portadores de pré-mutações podem ser encaminhados para aconselhamento genético.[7][6]

A doença não tem cura.[2] Está recomendada a intervenção em idade precoce, de forma a promover na pessoa o maior número possível de competências.[8] Entre as medidas de intervenção estão o ensino especial, terapia da fala, fisioterapia e terapia comportamental.[2][9] As crises epilépticas, perturbações de humor, comportamento agressivo ou perturbação de hiperatividade com défice de atenção associados à doença podem ser tratados com medicação.[10] A doença é mais comum entre homens do que entre mulheres.[1] Estima-se que a síndrome do X frágil afete 1,4 em cada 10 000 homens e 0,9 em cada 10 000 mulheres.[11]

Causas

Localização do gene FMR-1 no cromossoma X na banda cromossômica Xq27.3

É uma síndrome causada pela mutação do gene FMR1 no cromossoma X, um gene ligado à formação dos dendritos nos neurônios, uma mutação encontrada em 1 de cada 2000 homens e 1 em cada 4000 mulheres. Normalmente, o gene FMR1 contem entre 6 e 54 repetições do códon CGG (repetições de trinucleotídeos). Portadores do gene, mas com intelecto normal, possuem entre 55 e 200 repetições. Pessoas com a síndrome do X frágil, o alelo FMR1 tem mais de 200 repetições deste códon CGG. Uma expansão desta magnitude resulta na metilação dessa porção do DNA, silenciando a expressão da proteína FMR1. A metilação do locus FMR1 resulta numa constrição e fragilidade do cromossoma X nesse ponto, um fenômeno que deu o nome à síndrome (quanto mais largo um gene mais fácil é rompê-lo).[12]

Homens XY com a síndrome nao aumentam o número de tripletes nas próximas gerações e não passa o gene X para seus filhos, mas suas filhas são sempre portadoras. Mulheres XX, tem metade da chance de ter sintomas, porém seus óvulos podem aumentar o número de tripletes CGG para mais de 200 e podem passar o gene tanto para seus filhos como para suas filhas.

Sinais clínicos

Físicos

As características físicas mais proeminentes da síndrome incluem[13]:

Há um maior risco de desenvolver convulsões, tremores e estrabismo

Comportamentais

Comportamentalmente podem observar-se[14]:

  • Ansiedade social;
  • Evitar contato visual;
  • Atraso para aprender a engatinhar, andar e dar volta;
  • Atraso em aprender a falar e escrever;
  • Dificuldade em se expressar bem;
  • Dificuldade em se lembrar;
  • Abanar, torcer ou morder as mãos;[15]
  • Impulsividade, impaciência e irritabilidade;
  • Maior vulnerabilidade a transtornos do humor e transtornos de ansiedade.

Costumam levar em média 50% mais para aprender conhecimentos escolares como matemática e linguística.[16] O autismo ocorre em 5% desses indivíduos, o que já é responsável por cerca de 15 a 60% do espectro autista dependendo dos critérios diagnósticos usados.[17]

Em portadoras

Mulheres portadoras do gene, mas sem os sintomas, tem 20% de chance de ter menopausa precoce (insuficiência ovariana primária).[18]

Diagnóstico

A principal forma de diagnóstico, padrão-ouro, é através da avaliação do número de repetições de repetições CGG no promotor do gene FMR1. A amostra utilizada para esse exame genético costuma ser sangue periférico ou saliva. É possível a realização do diagnóstico pré-natal através das vilosidades coriônicas (entre 9 e 11 semanas de gestação) ou pelas células fetais contidas no líquido amniótico (15a semana de gestação). É viável também o diagnóstico pré-implantacional. A investigação dessa condição através do cariótipo hoje não é utilizada por problemas de sensibilidade e especificidade [19].

Tratamento

Não há cura para síndromes genéticas, sendo o tratamento apenas por assistência em questões de comportamento e aprendizado. A família deve passar por aconselhamento genético para entender melhor como é a hereditariedade dessa síndrome, com avaliação de risco de recorrência que é fundamental para o planejamento familiar.

Farmacológico

Quando uma pessoa é diagnosticada com X Frágil, o aconselhamento genético para esclarecer sobre a síndrome é recomendado. Devido a uma maior prevalência de transtornos psicológicos os medicamentos mais utilizados são os psiquiátricos como:

Medicamentos visando o mGluR5 (receptores de glutamato metabotrópicos) que estão relacionados com a plasticidade sináptica são especialmente benéficas para os sintomas-alvo de X frágil. Sal de lítio também está sendo utilizado em ensaios clínicos com seres humanos, mostrando melhorias significativas no funcionamento comportamental, comportamento adaptativo, e memória verbal.

Não-farmacológico

Entre tratamentos não farmacológicos estão[20]:

História

A ligação entre deficiência mental e o gene sexual foi descrita por J. Purdon Martin e Julia Bell no artigo "A PEDIGREE OF MENTAL DEFECT SHOWING SEX-LINKAGE".[21] Eles analisaram uma família (6 gerações), mostrando que a "imbecilidade" (em 1943, esta era a terminologia usada) passava de mães saudáveis (porém portadoras) para filhos, mas não para filhas.

Ver também

Ligações externas

Referências