Religiosidade

Religiosidade, em seu sentido mais amplo, é um termo abrangente usado para se referir aos numerosos aspectos da atividade, dedicação e crença religiosas. No sentido mais restrito, a religiosidade trata mais de quanto uma pessoa é religiosa e menos de como uma pessoa é religiosa (praticando certos rituais, recontando histórias, reverenciando símbolos ou aceitando uma doutrina sobre deidades e vida após a morte).[3]

Resultados de uma pesquisa Gallup de 2008/2009 sobre se os entrevistados consideravam que a religião era "importante na sua vida diária".[1][2]
  90%-100%
  80%-89%
  70%-79%
  60%-69%
  50%-59%
  40%-49%
  30%-39%
  20%-29%
  10%-19%
  0%-9%
  No data

Diversidade nas crenças, afiliações e comportamentos dos indivíduos

Décadas de pesquisas antropológicas, sociológicas e psicológicas estabeleceram que a "congruência religiosa" (a suposição de que as crenças e valores religiosos são fortemente integrados na mente de um indivíduo ou que práticas e comportamentos religiosos decorrem diretamente de crenças religiosas) é realmente rara. As ideias religiosas das pessoas estão fragmentadas, vagamente conectadas e dependem do contexto; como em todos os outros domínios da cultura e da vida. As crenças, afiliações e comportamentos de qualquer indivíduo são atividades complexas que têm muitas fontes, incluindo a cultura. Como exemplos de incongruência religiosa, ele observa: "Os judeus observantes podem não acreditar no que dizem nas suas orações do sábado, os ministros cristãos podem não acreditar em Deus, e as pessoas que dançam regularmente pela chuva não o fazem na estação seca".[4]

Dados demográficos

Os estudos demográficos muitas vezes mostram uma grande diversidade de crenças religiosas, pertencimentos e práticas em ambas as populações religiosas e não religiosas. Por exemplo, dos americanos que não são religiosos e não procuram a religião: 68% acreditam em Deus, 12% são ateus, 17% são agnósticos; também, em termos de autoidentificação da religiosidade, 18% consideram-se religiosos, 37% se consideram espirituais, mas não religiosos, e 42% consideram-se não espirituais nem religiosos; e 21% oram todos os dias e 24% oram uma vez por mês.[5][6][7] Estudos globais sobre religião também mostram diversidade.[8]

Componentes da religiosidade

Numerosos estudos têm explorado os diferentes componentes da religiosidade humana (Brink, 1993, Hill & Hood, 1999). O que a maioria descobriu é que existem múltiplas dimensões (muitas vezes empregam análise fatorial). Por exemplo, Cornwall, Albrecht, Cunningham e Pitcher (1986) identificam seis dimensões da religiosidade baseadas no entendimento de que há pelo menos três componentes do comportamento religioso: a saber (cognição na mente), sentimento (efeito no espírito) e ação (comportamento do corpo). Para cada um desses componentes da religiosidade, houve duas classificações cruzadas, resultando nas seis dimensões:[9]

  • Cognição
    • Ortodoxia tradicional
    • Ortodoxia particularista
  • Efeito
    • Palpável
    • Tangível
  • Comportamento
    • Comportamento religioso
    • Comportamento participativo

Correlação entre religiosidade e outras características individuais

  • Inteligência – Uma metanálise encontrou uma correlação de -24 entre o quociente de inteligência (QI) e a religiosidade para as sociedades ocidentais. A correlação foi sugerida como resultado de estilos de pensamento não conformistas, mais cognitivos e menos intuitivos entre os menos religiosos e menos de uma necessidade de religião como um mecanismo de enfrentamento. O estudo observou limitações nos resultados, tais como não considerar o papel do tipo de religião e cultura na avaliação da relação.[10]
  • Hipótese do mundo justo – Estudos têm encontrado que a crença em um mundo justo está correlacionada com aspectos da religiosidade.[11][12]
  • Aversão ao risco – Vários estudos descobriram uma correlação positiva entre o grau de religiosidade e aversão ao risco.[13][14]

No Brasil

Em seu livro Raízes do Brasil, Sergio Buarque de Holanda explica que a religiosidade brasileira é "de superfície, menos atenta ao sentido íntimo das cerimônias do que ao colorido e à pompa exterior, quase carnal em seu apego ao concreto e em sua rancorosa incompreensão de toda verdadeira espiritualidade". Diz que os cultos apelam só ao sentimento e aos sentidos, e não à razão ou à vontade. Holanda cita Daniel Parish Kidder, missionário americano que esteve no Brasil no começo do século XIX, que escreve em tom irônico:[15]

Em meio do ruído e da mixórdia, da jovialidade e da ostentação que caracterizam todas essas celebrações gloriosas, pomposas, esplendorosas, quem deseje encontrar, já não digo estímulo, mas ao menos lugar para um culto mais espiritual, precisará ser singularmente fervoroso.
— Daniel Parish Kidder

Para Holanda, a pouca devoção dos brasileiros (ao menos na fé cristã) deve-se às caracterísicas do homem cordial: averso ao ritualismo, irreverente, excessivamente cordial. "No Brasil, [...], foi justamente o nosso culto sem obrigações e sem rigor, intimista e familiar,[...] que dispensava no fiel todo esforço, toda diligência, toda tirania sobre si mesmo, o que corrompeu, pela base, o nosso sentimento religioso".[15]

Ver também

Referências