Parque Dom Pedro II

O Parque Dom Pedro II é um parque localizado no bairro da , no distrito da , no município de São Paulo, no Brasil. Fica na divisa entre o Centro Histórico de São Paulo e o bairro do Brás.

Parque Dom Pedro II
Parque Dom Pedro II
O Parque Dom Pedro II em primeiro plano, visto da Edifício Altino Arantes. Ao fundo, a vista para a região leste da cidade.
Localização(), São Paulo, SP
TipoPúblico
Área
Inauguração1922 (102 anos)
AdministraçãoPrefeitura de São Paulo

Características

Palácio das Indústrias, localizado no Parque Dom Pedro II

É cortado por cinco viadutos e pela Avenida do Estado, tendo sobrado cerca da metade da área verde que originalmente possuía em sua inauguração. Em sua área está localizado o Terminal Parque Dom Pedro II de ônibus (o mais movimentado da cidade, que atende principalmente as regiões Leste, Sudeste e Nordeste da capital), a Estação Pedro II do Metrô de São Paulo e a Escola Estadual São Paulo. Tal movimento deu origem a uma das maiores concentrações de vendedores ambulantes de São Paulo.

A região também apresenta quantidade de moradores de rua, delitos de pequeno poder ofensivo e usuários de drogas em determinadas áreas, sendo o trânsito de pedestres pelas áreas arborizadas e embaixo dos viadutos considerado pouco seguro.[1] Uma das áreas mais problemáticas em termos de segurança é a passagem de pedestres que separa o parque do Palácio das Indústrias — que recebeu até o apelido de "Faixa de Gaza" —, onde assaltantes se disfarçam de moradores de rua para abordar os transeuntes.[2] Já a área próxima ao terminal de ônibus é extremamente movimentada e relativamente bem policiada.

Histórico

O parque.
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O parque fica a menos de um quilômetro da Praça da Sé, em um pedaço da antiga Várzea do Carmo que costumava ser inundado pelo rio Tamanduateí.[3] Foi na Várzea do Carmo que se deu o primeiro jogo de futebol reconhecido em território brasileiro, embora não se saiba o local exato.[4] Segundo o jornal O Estado de S. Paulo, "reza a lenda" que o prédio do 2.º Batalhão de Guardas, localizado no parque, teria sido, originalmente, um presente do imperador dom Pedro I à Marquesa de Santos, servindo como local para os encontros entre os dois.[5] Mais tarde o local abrigaria a sede de uma das chácaras da Várzea do Carmo, o Seminário das Educandas e o Hospício dos Alienados, a partir de 1930 a Força Pública e depois do Golpe Militar de 1964 foi tomado pelo Exército.[5] A região virou um depósito de lixo por cerca de cinco anos na década de 1870, sendo recuperada por questões sanitárias.[3] Parte da Várzea do Carmo foi aterrada na metade do século XIX, quando da retificação do curso do rio, e foram criados jardins e praças.[3]

Quando dessa retificação, foi criada no rio a Ilha dos Amores,[3] uma ilha artificial que ficava nas proximidades da atual Rua 25 de Março. Esta ilhota ajardinada foi, entre as décadas de 1870 e 1880, um ponto de lazer da cidade, quando ali existiam quiosques com bebidas e comidas, além de uma casa de banho e espaço para o descanso. Após vários alagamentos, a ilha foi abandonada para o lazer e deixou de existir no início em 1910, quando ocorreu a segunda retificação do rio.[3][6]

Outrora belo e arborizado, foi inaugurado em 1922, com projeto do francês Joseph-Antoine Bouvard e era na época considerado a principal área de lazer da cidade.[7] O batismo com o nome do segundo imperador brasileiro dera-se no ano anterior.[8] Na década de 1940 ganhou o Parque Shangai, um dos parques de diversões mais movimentados no Brasil durante muitos anos, na esquina da Avenida do Estado com a Rua da Mooca.[9] O parque seria desapropriado em novembro de 1968, para dar lugar aos viadutos que hoje cortam a região.[9] A concorrência pública dos trabalhos preliminares para a "urbanização" do parque fora aberta em 3 de junho daquele ano, prevendo cinco viadutos, pavimentação das pistas da Avenida do Estado ao longo do canal do Rio Tamanduateí e outras obras.[10] A inauguração da Avenida do Estado é considerada o marco do início da degradação do parque,[11] além da construção dos viadutos nos anos 1960, que eliminaram muito do verde do parque.[12] O terminal de ônibus, inaugurado em 1971, e a Estação Pedro II do Metrô, que começaria a ser construída poucos anos depois, fizeram o parque perder ainda mais áreas verdes.[12] Em 1980, o parque era, nas palavras do jornal Folha de S.Paulo, "um canteiro de obras do Metrô e da canalização do Rio Tamanduateí, além de [um] terminal de ônibus".[13] Hoje, trata-se de um dos lugares mais movimentados da cidade, pois constitui-se em uma região de passagem, especialmente para quem transita entre o centro e a zona leste de São Paulo, mas é também considerado "a área do centro mais esquecida pelo poder público desde a década de 1940".[7]

O parque é constantemente usado como exemplo da devastação que áreas verdes sofreram em São Paulo para criar ou alargar ruas e avenidas.[14] O urbanista Nestor Goulart Reis, em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, declarou em 2008 que "nos últimos setenta anos o local virou uma colcha de retalhos, com medidas apenas pontuais", e que "nunca houve um projeto para o conjunto do parque que fosse colocado em prática".[7] Nas mudanças que o parque sofreu na segunda metade do século XX, apenas o sistema viário foi privilegiado.[15]

Com a migração dos mais abastados do centro para outros bairros, a partir da primeira metade do século XX, o Parque Dom Pedro II passou a ser considerado a divisa entre a "pujança da parte nobre da capital" e a zona leste, a "cidade dos trabalhadores", em metáfora citada por O Estado.[7]

Projetos e ações de revitalização

Há alguns anos, vêm sendo estudadas formas viáveis de revitalização do local, tendo algumas iniciativas sido descontinuadas ao longo dos anos. A demolição dos edifícios São Vito (cortiço desocupado em 2004) e Mercúrio, verdadeiros símbolos da degradação da região, objetivou integrar, paisagística e visualmente, o Mercado Municipal de São Paulo com o Parque Dom Pedro e o Palácio das Indústrias, bem como a demolição do malconservado e subutilizado Viaduto Diário Popular,[16] construído em 1969, cujos alicerces servem de abrigo para moradores de rua e viciados.[17] A demolição dos dois prédios foi concluída em maio de 2011.

Alguns dos viadutos que cortam a região
Mercado Municipal, à esquerda, edifícios Mercúrio e São Vito (hoje demolido), ao centro, e Viaduto Diário Popular, à direita

O viaduto era usado em maio de 2010 por cerca de 1,2 mil carros por hora, cinco vezes menos que sua capacidade.[17] Com as demolições, uma das ideias seria integrar a área ao parque, em um projeto que, segundo a prefeitura, ia "fazer dele o Parque Ibirapuera do centro da cidade".[18] A demolição do viaduto chegou a ser iniciada em 1992, já com a intenção de uma reurbanização do parque, o que gerou protestos de comerciantes do entorno, por causa dos congestionamentos provocados na Avenida Mercúrio e nas ruas do Gasômetro e da Figueira por causa da interdição.[19] O prefeito Gilberto Kassab abriu licitação para a demolição do viaduto novamente em outubro de 2006, mas novamente o projeto não andou.[17] O motivo para os seguidos adiamentos da demolição seriam as complicações que uma implosão poderia causar, tanto no trânsito da Avenida do Estado como na estrutura do Mercado Municipal.[17]

Embora existam projetos de revitalização da região desde 1989[1] — a ex-prefeita Luíza Erundina levou a sede da prefeitura para o Palácio das Indústrias, com a intenção de recuperar a região,[3][12] onde ficou entre 1992 e 2004[20] — e a gestão Kassab tenha projetos para essas demolições desde 2006, com previsão até mesmo para mudança do terminal de ônibus,[18] eles demoraram para sair do papel. A demolição dos imóveis no quarteirão do Edifício São Vito, o primeiro passo do projeto, só terminou em maio de 2011. Entre os projetos estava a reforma dos jardins entre o Palácio das Indústrias e a estação Pedro II e a recuperação urbanística do parque.[3]

A gestão Kassab contratou a Fundação para a Pesquisa Ambiental, órgão ligado à Universidade de São Paulo, para fazer uma nova proposta de ocupação, que deveria ser apresentada em julho de 2010 ao custo de 500 mil reais.[20] De acordo com o jornal Folha de S.Paulo, duas quadras seriam demolidas entre o Pátio do Colégio e o Parque Dom Pedro II, incluindo um edifício-garagem construído irregularmente nos anos 1980, para dar lugar a garagens subterrâneas e um shopping popular ou camelódromo.[20] Havia pressão para que o terminal de ônibus junto ao parque fosse extinto, embora seja também ali que fica a estação final do Expresso Tiradentes, que não pode ser removida.[20] Em outubro de 2010 moradores e comerciantes da região entregaram à Prefeitura e à Polícia Militar uma lista com doze reivindicações nas áreas de urbanismo e segurança.[21] A resposta da prefeitura foi uma promessa de atender às reivindicações, enquanto a polícia propôs a instalação de uma base comunitária móvel no parque.[21]

Muitos projetos foram divulgados, especialmente para o quarteirão dos edifícios São Vito e Mercúrio. Em abril de 2011 foi divulgado acordo com o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial para que a instituição erga naquele terreno um centro gastronômico, parte de um projeto que integraria o Mercado Municipal ao parque por meio de um bulevar que cobrirá a Avenida do Estado e o Rio Tamanduateí no trecho em frente ao mercado, com a avenida virando um túnel nesse trecho e o Viaduto Diário Popular sendo demolido.[22] Além disso, era prevista a abertura de uma unidade do Serviço Social do Comércio.[11] A área foi transferida ao Sesc em dezembro, mas a entidade ainda aguardava um decreto de concessão de uso para dar início às obras.[23] A previsão era de que a nova unidade ficasse pronta dois anos e meio após a aprovação do decreto, que só deveria ocorrer no primeiro semestre de 2012.[23] As contrapartidas a ser oferecidas pelo Sesc constituíam-se de cem vagas gratuitas para crianças de sete a doze anos de idade em um de seus projetos, além da promoção de jogos recreativos, serviços odontológicos, espetáculos artísticos e a manutenção de um ambiente com internet livre e equipamentos adequados para acessá-la.[23]

Ao redor do parque prevê-se ainda a instalação de diversos equipamentos culturais e de ensino, além de mudanças no terminal de ônibus.[22] Lojistas da Rua 25 de Março, próxima ao terminal, preocupavam-se em 2011 com a possível mudança de local, especialmente se ele fosse transferido para o Pari.[24] O secretário municipal de Desenvolvimento Urbano, Miguel Bucalem, garantia em maio de 2011 que a intenção do projeto de revitalização era resgatar a função original do parque, sem abrir mão das "necessidades modernas" e "não como uma simples volta ao passado".[15] Ele dizia que seriam respeitadas as características ambientais e históricas, além das ligadas ao transporte público, o que significava a construção de um terminal intermodal ao lado da Estação Pedro II do Metrô, que incluiria os terminais do Expresso Tiradentes e de ônibus.[15]

No entanto, em maio de 2013, o então secretário municipal de Desenvolvimento Urbano, Fernando de Mello Franco, revelou que o projeto de revitalização proposto pela gestão anterior havia sido descartado. O motivo seria o alto custo de implantação do projeto, orçado em 1,5 bilhão de reais.[25]

Referências