Matariki

Para os Māoris, Matariki tanto é o aglomerado estelar assim como a celebração do começo de um novo ano no fim de junho ou início de julho. Isto marca o Ano Novo no calendário lunar Māori.

Matariki era normalmente celebrado durante a última fase da lua no mês lunar de Pipiri (meados de Junho); a cerimônia envolvia a visualização de estrelas individuais para previsões para o ano seguinte, lamentando os falecidos do ano anterior, e fazendo uma oferenda de comida para as estrelas. Após o declínio da celebração do Matariki durante o século XX, houve um renascimento no início do século XXI.[1] Matariki foi declarado como feriado nacional na Nova Zelândia a ser celebrado pela primeira vez em 24 de junho de 2022.

Nome e significado

Matariki é o nome Māori para o aglomerado estelar conhecido pelos astrônomos ocidentais como Messier 45 (M45), ou Plêiades na constelação de Touro. Matariki é uma versão abreviada de Ngā mata o te ariki o Tāwhirimātea, ou "os olhos do deus Tāwhirimātea. De acordo com a mitologia Māori, Tāwhirimatea, deus do vento e das condições meteorológicas, se enfureceu com a separação do céu e da terra - seus pais, Ranginui e Papatūānuku.[1] Derrotado em batalha por seu irmāo, Tāwhirimātea fugiu para o céu para viver com Ranginui, mas em sua raiva arrancou seus olhos, como um gesto de desprezo a seus irmãos, e jogou-os pra o céu, onde eles permanecem colados ao peito de seu pai. Na tradição Māori a imprevisibilidade dos ventos é atribuída à cegueira de Tāwhirimātea.[2]

Matariki às vezes é incorretamente traduzido como mata riki, "olhos pequenos", um erro originado em Elsdon Best[3] e continuado por outros.[4]

A palavra Matariki é o nome do aglomerado estelar assim como também é o nome das estrelas dentro dele: outros termos para o aglomerado como um todo incluem Te Tautari-nui-o-Matariki (Matariki fixada nos céus) e Te Huihui o Matariki (a assembleia de Matariki).

Na Polinésia

A palavra Matariki ou similar, referindo-se às Plêiades, é encontrada em muitas línguas Polinésias.[5] Nas Ilhas Marquezas o aglomerado estelar é conhecido como Matai'i ou Mata'iki, Nas Ilhas Cook como Matariki, e no arquipélago de Tuamotu como Mata-ariki.[1] Em alguns idiomas tem o significado de Best "olhos pequenos", mas na maioria é uma contração de mata-ariki, que significa "olhos do deus" ou "olhos do chefe".[1] No Hawai'i, a ascensão de Makali'i em novembro inaugura a temporada de quatro meses do Makahiki que honra Lono, o deus da agricultura e da fertilidade.[1][6] Em Tonga , assim como no Hawai'i o ano é dividido em duas estações, que são nomeadas de acordo com a visibilidade das Plêiades após o pôr do sol: Matali'i nia (Matali'i acima) e Matali'i raro (Matali'i raro abaixo). Em Rapa Nui, Matariki anuncia o Ano Novo, e seu desaparecimento em meados de abril encerra a temporada de pesca.[1]

As nove estrelas

Para os gregos antigos, as Plêiades tinham nove estrelas: os pais, Atlas e Pleione, posicionados em um lado do aglomerado, e suas sete filhas Alcione, Maia, Taigete, Electra, Mérope, Celeno e Asterope.

Muitas fontes Māoris , especialmente as mais antigas, listam sete estrelas no Matariki: A própria Matariki, a estrela central no aglomerado (a kai whakahaere ou 'regente'), e suas filhas.[7] O emblema do Kingitanga ou Movimento do Rei Māori, Te Paki o Matariki, inclui a estrela Matariki ladeada por três estrelas de cada lado.[4] As outras seis estrelas às vezes são chamadas de filhas de Matariki; foi sugerido que a ideia de Matariki como um grupo de sete estrelas femininas foi influenciada pelo conceito das "sete irmãs" das Plêiades.[2]

O manuscrito de Rāwiri Te Kōkau passado para Rangi Matamua reconheceu nove estrelas em Matariki, adicionando Pōhutukawa e Hiwa-i-te-Rangi (também conhecido apenas como Hiwa) para fazer um total de oito filhos, cinco dos quais eram mulheres e três homens. O pai dos filhos de Matariki era Rehua, chefe supremo dos céus, identificado pelos Māoris como a estrela Antares.[2]

As estrelas de Matariki e seus gêneros, conforme registrado por Te Kōkau, são identificadas com características e áreas de influência particulares, também refletidas em suas posições no aglomerado estelar.[2]

As nove estrelas de Matariki
MaoriGregoGêneroLinhagem
MatarikiAlcioneFemininoSaúde e bem-estar
Tupu-ā-rangiAtlasMasculinoAlimento que vem de cima
Tupu-ā-nukuPleioneFemininoAlimento que cresce no solo
UrurangiMéropeMasculinoO vento
Waipunā-ā-rangiElectraFemininoÁgua da chuva
Hiwa-i-te-rangiCelenoFemininoCrescimento e prosperidade
WaitiMaiaFemininoÁgua fresca
WaitāTaigeteMasculinoO oceano
PōhutukawaAsteropeFemininoOs Falecidos

A associação da estrela Pōhutukawa com os falecidos está relacionada à solitária árvore pōhutukawa em Te Rerenga Wairua (Cape Reinga), o local de partida para os espíritos dos falecidos quando eles retornarem à terra ancestral de Hawaiki. O luto pelo falecido é um componente da celebração do Matariki.[2]

Hiwa-i-te-rangi, também conhecido apenas como Hiwa, é o filho mais novo de Matariki e foi considerado a "estrela dos desejos": Māoris depositavam suas esperanças e desejos em Hiwa, semelhante ao que hoje em dia chamamos de "fazer um pedido a uma estrela", e se parecesse brilhar forte e claro na primeira visão de Matariki, esses desejos individuais e coletivos provavelmente seriam atendidos.[2]

Ano Novo Māori

A cultura tradicional Māori foi entrelaçada com o conhecimento astronômico, com constelações e o ciclo lunar usado para navegação, plantio e colheita, delineando as estações e marcando a desova e a migração de peixes.[8] Este conhecimento foi transmitido pela tradição oral, e diferentes regiões e iwis registraram datas diferentes, constelações significativas e calendários tradicionais ou maramataka.[8]

As Plêiades são visíveis durante a maior parte do ano na Nova Zelândia, exceto por cerca de um mês no meio do inverno. Matariki finalmente se põe no oeste no início da noite de maio e reaparece pouco antes do nascer do sol no final de junho ou início de julho, o que inicia o primeiro mês do calendário lunar Māori, Piripi (que significa amontoar-se).[9] Todos os meses do calendário Māori são indicados por esta ascensão heliacal de uma estrela específica no horizonte oriental, pouco antes do amanhecer, na noite da lua nova: por exemplo, o décimo mês, Poutūterangi, é sinalizado pela ascensāo heliacal de Altair.[2] O papel do Matariki em sinalizar o início do ano significa que ele é conhecido como te whetū o te tau ("a estrela do ano").[2]

O tempo no meio do verão, quando Matariki está no céu noturno, é conhecido como te paki o Matariki, o clima calmo do verão - uma frase que significa bom tempo e boa sorte. A canoa Tainui foi instruída a deixar a terra natal do Hawaiki para Aoteaora no verão, quando Matariki estava acima. O segundo rei Māori, Matutaera Tawhiao, escolheu Matariki como emblema por causa de suas associações com paz e calma, e o jornal Kīngitanga foi chamado Te Paki o Matariki.[2]

A maior parte da celebração do Matariki começa no último quarto da fase da lua após a primeira aparição da constelação, durante 3-4 noites conhecidas como "as noites de Tangaroa" (ngā po o Tangaroa), e termina na noite antes da lua nova.[8] A lua nova, ou whiro, é considerada desfavorável no calendário Māori, pois isso estragaria qualquer comemoração.[2] Como os Māoris usam um calendário lunar de 354 dias com 29,5 dias ao mês, em vez do calendário solar gregoriano de 365 dias, as datas de Matariki variam a cada ano. Os Māoris nāo usavam um único calendário lunar unificado: diferentes iwis podiam reconhecer diferentes números de meses, dar-lhes nomes diferentes ou começar o mês na lua cheia em vez da lua nova.[2]

Referências