Marco Atílio Régulo
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Marco Atílio Régulo (morte c. 250 a.C.;[1] em latim: Marcus Atilius Regulus) foi um político da gente Atília da República Romana eleito cônsul por duas vezes, em 267 e 256 a.C.[1] (sufecto), com Lúcio Júlio Libão e Lúcio Mânlio Vulsão Longo respectivamente. Era filho de Marco Atílio Régulo, cônsul em 294 a.C., e pai de Marco Atílio Régulo, cônsul em 227 e 217 a.C..
Marco Atílio Régulo | |
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Cônsul da República Romana | |
Os parentes de Marco Atílio Régulo tentam impedi-lo de voltar para Cartago, onde será executado. 1832. Por Michel Ghislain Stapleaux. | |
Consulado | 267 a.C. 256 a.C.(suf.) |
Nascimento | Sora |
Morte | c. 250 a.C. |
Cartago |
Primeiros anos
Atílio Régulo nasceu no território da cidade volsca de Sora, em um local atualmente localizado entre Sora e Balsorano (cujo nome deriva de Vallis Sorana). A data exata é desconhecida, mas os estudiosos acreditam que tenha sido por volta de 299 a.C.. Os Atílios eram a principal família da Campânia quando os habitantes da região ganharam a cidadania romana e o cognome Régulo pode ser uma referência à posição social de "reis" que detinham naquela sociedade[2](página?).
Primeiro consulado (267 a.C.)
Marco Atílio foi eleito cônsul pela primeira vez em 267 a.C. com Lúcio Júlio Libão três anos antes da Primeira Guerra Púnica[3]. Segundo Eutrópio, os dois cônsules conduziram a guerra contra os salentinos na Apúlia e os derrotaram rapidamente. Depois, ambos conquistaram boa parte da região, principalmente a cidade de Brindisi[4], um importante porto que deu aos romanos o controle da embocadura do mar Adriático e era o mais próximo da costa da Grécia, o próximo alvo das intenções expansionistas de uma Roma que já estava mirando novos territórios na planície Padana e na Ilíria[5].
Segundo consulado (256 a.C.)
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2. Ataque romano a Panormo. Recuo em 258 a.C..
3. Romanos capturam Mitistrato (258 a.C.).
4. Romanos retomam Ena e Camarina (258 a.C.).
5. Vitória naval romana na Batalha de Ecnomo (256 a.C.).
6. Marco Atílio Régulo invade a África (256 a.C.)
Em 256 a.C., o nono ano da Primeira Guerra Púnica, Roma esta em pleno processo de passagem de uma potência local terrestre para uma potência regional marítima, lutando pelo controle do mar Mediterrâneo. Com a península Itálica praticamente unificada, os romanos se expandiam para além dos Apeninos para além de suas costas.
Cabo Ecnomo
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Quando Atílio Régulo foi eleito cônsul pela segunda vez, como cônsul sufecto depois da morte prematura de Quinto Cedício, as forças romanas na Sicília, sob o comando de Valério Messala haviam conquistado Messana e Hierão II, tirano de Siracusa e aliado romano, havia cercado e conquistado Agrigento, de onde a guarnição cartaginesa, liderado por Aníbal Giscão, escapou por pouco. A frota romana sofreu uma derrota na Batalha das ilhas Líparas, devido sobretudo à imperícia de Cneu Cornélio Cipião Asina, mas logo depois conseguiu uma vitória sob o comando de Caio Duílio na Batalha de Milas. E os romanos conseguiram finalmente plantar cabeças de ponte na Sardenha e Córsega, até então domínios cartagineses.
Com as grandes ilhas sob controle, o senado romano resolveu levar a guerra até a consta do norte da África, invadindo as colônias cartaginesas. Roma preparou uma grande frota com 330 navios e 140 000 soldados na infantaria e os dois cônsules embarcaram para o norte da África, em direção a Cartago, que havia reunido 350 navios e 150 000 soldados. Numa batalha que ficou conhecida como Batalha de Ecnomo, os romanos iniciaram as operações formados em três esquadras. Duas delas, comandadas por Régulo e Vulsão, iam à frente. A outra estava na retaguarda protegendo os navios que transportavam os cavalos romanos. A frota navegava em formação triangular, que oferecia melhor proteção.
Os cartagineses estavam posicionados numa longa linha horizontal com Amílcar no centro e duas alas ligeiramente avançadas nos flancos. Estas alas avançaram, deixando a linha central isolada, o que fez dela um alvo imediatamente. As duas primeiras esquadras foram responsáveis pelo ataque ao centro da tropa cartaginesa. Como os soldados estavam lutando sob a liderança dos dois cônsules, que estavam pessoalmente envolvidos no combate, o moral das tropas era alto e os cartagineses acabaram derrotados depois de uma dura batalha. Em seguida, as esquadradas seguiram para liberar a retaguarda. A esquadra de Vulsão perseguiu a ala esquerda cartaginesa, que estava atacando os navios de transporte enquanto Régulo seguiu diretamente para atacar o almirante Hanão. Salvar os transportes foi essencial para as vitórias romanas seguintes em Áspis ou Clúpea (Kélibia, na Tunísia), pois nelas estavam os cavalos da cavalaria, a comida e os suprimentos necessários para um exército em terra. Depois da batalha, cerca de metade da frota cartaginesa foi capturada ou afundada. Segundo Políbio, foi a maior batalha naval da Antiguidade.
Os dois cônsules desembarcaram na África, rapidamente se reorganizaram e embarcaram novamente em direção ao cabo Bon, desembarcando perto de Áspis, cercando a cidade e deixando ali uma guarnição depois de conquistá-la. Em seguida, os cônsules enviaram as tropas para saquear a região, que era muito próspera. Os soldados reuniram o gado, queimaram as casas dos ricos, capturaram muitos escravos e destruíram as defesas das cidades. Neste meio tempo, o senado instruiu que um dos cônsules voltasse a Roma com a frota deixando o outro na África com o exército. Lúcio Mânlio Vulso Longo voltou com a frota, o butim e os prisioneiros (cerca de 20 000) enquanto Marco Atílio Régulo ficou com quarenta navios, 1 500 elefantes e 500 cavaleiros[7], assumindo sua capital em Túnis[a].
Campanha africana (255 a.C.)
Marco Atílio, com poderes proconsulares, passou a conduzir suas operações energicamente, aproveitando-se da incompetência dos generais cartagineses. O inimigo havia reduzido uma força considerável, liderada por três generais: Asdrúbal Hanão, Bostar e Amílcar, mas eles evitavam as planícies, onde sua cavalaria e seus elefantes de guerra lhes dariam uma considerável vantagem sobre o exército romano, e se retiraram para as montanhas.
Quando os cartagineses finalmente vieram, Atílio Régulo lhes infligiu uma rápida derrota na Batalha de Ádis, na qual foram mortos 15 000 e capturados 5 000 cartagineses, além de dezoito elefantes. Com as tropas cartaginesas seguras em Cartago, Régulo passou a assolar o país livremente. Túnis caiu e os númidas, aproveitando-se da situação, se revoltaram contra os cartagineses, aumentando a devastação. Desesperados, os cartagineses enviaram emissários para tentar a paz. As ordens de Roma pediram o retorno à pátria de parte do exército e da marinha, o que ficou a cargo de seu colega, Lúcio Mânlio Vulsão Longo. Cartago, enquanto tratava a paz, tratou de reorganizar um novo exército e, fortuitamente, um general espartano de habilidades comprovadas, Xantipo, apareceu em Cartago. Ele conseguiu convencer os cartagineses que sua situação se devia à incompetência de seus generais e não à superioridade militar romana e, com a confiança do povo, foi imediatamente colocado à frente do exército cartaginês.
![](http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/d/d9/Battle_of_Bagradas-Tunis_255_BC-pt.svg/220px-Battle_of_Bagradas-Tunis_255_BC-pt.svg.png)
Por outro lado, Atílio Régulo precisava terminar sua guerra antes que seu colega chegasse a Roma e antes que o partido contrário à guerra conseguisse a primazia por causa dos enormes custos econômicos e humanos que já haviam sido incorridos. Por conta disto, ele cometeu o erro de subestimar a força dos cartagineses e impôs termos pesados demais para a paz, tornando a rendição impossível. Cartago então reiniciou as hostilidades com um exército reorganizado sob o comando de Xantipo, que, baseando-se principalmente em sua cavalaria de 4 000 cavaleiros e 100 elefantes, marchou para o campo aberto para enfrentar os romanos. Atílio Régulo, com um exército reduzido e de baixo escalão, mas ainda assim em superioridade numérica, foi completamente derrotado na Batalha de Túnis, na qual trinta mil legionários romanos morreram e Régulo foi feito prisioneiro, junto com quinhentos mais[8].
Salvaram-se cerca de 2 000 homens que conseguiram voltar para Clupea e foram recolhidos por uma grande frota enviada por Roma sob a liderança dos cônsules do ano seguinte para encerrar definitivamente as hostilidades. A esquadra, ao invés disto, seguiu imediatamente para a Sicília, mas foi quase totalmente destruída numa furiosa tempestade. A guerra continuou na Sicília e no mar por mais treze anos.
Embaixada e morte
A partir deste ponto nasce a lenda de Marco Atílio Régulo, recontada por Lívio[9] e cantada por Horácio[10]. Conta a tradição que os cartagineses teriam enviado o ilustre prisioneiro a Roma para que ele convencesse seus concidadãos a cederem à paz. O plano era que, se ele não conseguisse fazê-lo, deveria retornar a Cartago para ser executado. Mas Atílio Régulo, durante seus anos de prisão, percebeu as duras condições na cidade inimiga e, provavelmente, as convulsões políticas que sempre marcaram Cartago e eles finalmente tentaram a sorte. Régulo, ao invés de defender a paz, revelou aos romanos as condições político-econômicas dos inimigos exortando os romanos a tentarem um último esforço, pois Cartago não conseguiria resistir à pressão da guerra e seria derrotada. Ao término de seu discurso, honrando a sua palavra, retornou para Cartago e foi torturado e executado. Aparentemente, a tortura infligida a Régulo, que teve as pálpebras cortadas e, famosamente, foi rolado morro abaixo dentro de um barril cheio de pregos[10], são, na verdade, criações da propaganda bélica romana; Sêneca fala de crucificação. O fato é que, com esta fama, Marco Atílio Régulo, passou de uma figura histórica completamente insípida para uma radiante e transformou-se imerecidamente num lendário herói salvador de seu país, um exemplo de firmeza moral e das virtudes cívicas, a epítome da honestidade.
Não se sabe em que ano esta missão teria ocorrido, o que põe em dúvida se o evento realmente aconteceu. É possível que Roma tenha necessitado de uma figura carismática e heroica (como Marco Fúrio Camilo, Horácio Cocles, Caio Múcio Cévola, Públio Décio Mus e tantos outros heróis romanos) para incitar os cidadãos a aumentarem um já enorme esforço bélico. O ano pode ter sido 250 a.C., quando os cartagineses, depois da derrota na Batalha de Panormo pelo procônsul Lúcio Cecílio Metelo, enviaram uma embaixada a Roma para solicitar a paz ou, pelo menos, o intercâmbio de prisioneiros. É possível supor também o ano de 246 a.C., quando a guerra ganhou renovado ímpeto com a intervenção cartaginesa na Sicília liderada por Amílcar Barca, paí de Aníbal; Roma criou colônias por todo o território potencialmente sujeito a desembarques cartagineses ou com forte presença grega, ainda não completamente subjugados e nem integrados.
Ver também
Cônsul da República Romana![]() | ||
Precedido por: Ápio Cláudio Russo | Lúcio Júlio Libão 267 a.C. | Sucedido por: Décimo Júnio Pera |
Precedido por: Cneu Cornélio Blasião II | Lúcio Mânlio Vulsão Longo 256 a.C. com Quinto Cedício | Sucedido por: Marco Emílio Paulo |