Lista de representantes brasileiros para o Oscar de melhor filme internacional

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A seguir, a lista de representantes brasileiros para o Oscar de Melhor Filme Internacional. O prêmio é entregue desde 1957 pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas (AMPAS) durante a cerimônia do Oscar.[1] Todos os países (exceto os Estados Unidos, organizador do evento) são convidados a submeter um longa-metragem para tentar uma vaga entre os cinco indicados a "Melhor Filme Internacional" (anteriormente conhecido como "Melhor Filme Estrangeiro").

A equipe do filme O Quatrilho no Hotel Beverly Hilton, em Los Angeles, horas antes da cerimônia do Oscar 1996.

Para entrar na disputa, os filmes precisam passar pelos critérios de elegibilidade, que sãoː não ter sido produzido majoritariamente nos Estados Unidos, ter sido exibido comercialmente em seu país de origem até 30 de setembro do ano anterior à cerimônia, não conter mais de 50% dos diálogos em inglês e ser escolhido como representante do país por uma organização, júri ou comitê composto por pessoas da indústria cinematográfica local.[2] Os filmes elegíveis são enviados para a apreciação dos membros da Academia inscritos no processo de seleção da primeira fase, onde uma votação determina 15 produções pré-indicadas. Posteriormente, é aberta uma segunda fase, atrelada ao período de votação dos demais indicados para a premiação, onde é definido cinco finalistas. Por fim, uma terceira votação define o filme vencedor.[2][3]

Desde 1961, o Brasil já inscreveu 50 filmes como seu representante, e destes, 44 não foram indicados, quatro conseguiram a indicação, um foi pré-indicado e um foi desclassificado por não cumprir os critérios de elegibilidade. Até hoje, nenhum representante brasileiro conquistou a estatueta de Melhor Filme Internacional, contudo, uma co-produção brasileira, rodada no Brasil e falada em português venceu o prêmio como representante de outro país.[4]

Histórico

A primeira inscrição brasileira ao Oscar de "Melhor Filme Internacional" (chamado na época de "Melhor Filme Estrangeiro") ocorreu em 1961 com A Morte Comanda o Cangaço, direção de Carlos Coimbra e Walter Guimarães Motta, que acabou não se classificando entre os cinco finalistas.[5] Antes disso, no entanto, o filme franco-brasileiro Orfeu Negro, dirigido pelo francês Marcel Camus e com roteiro adaptado a partir da peça Orfeu da Conceição, do brasileiro Vinícius de Moraes, venceu o prêmio de 1960 como representante da França.[6] Ainda que não tenha representado o Brasil, a vitória de Orfeu Negro foi de grande importância para a indústria cinematográfica brasileira, por se tratar de um filme rodado no Brasil, com atores brasileiros e totalmente falado em português.[4] Cabe ainda ressaltar que, quarenta anos depois foi escolhido como representante brasileiro uma nova adaptação de Orfeu da Conceição, o filme Orfeu de Cacá Diegues, mas que não conseguiu repetir o feito da primeira versão.[5]

O Pagador de Promessas, de Anselmo Duarte, garantiu a primeira indicação para o Brasil ao Oscar de "Melhor Filme Internacional" em 1963. Apesar de ter entrado na disputa como o grande favorito, devido ao fato de ter conquistado a Palma de Ouro no Festival de Cannes de 1962, o filme brasileiro acabou perdendo a estatueta para o drama francês Les dimanches de Ville d'Avray, de Serge Bourguignon.[7]

Em 1981, Pixote, a Lei do Mais Fraco, do cineasta Hector Babenco, foi desclassificado pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, apesar de ter sido submetido como representante oficial do Brasil. O motivo foi devido o filme ter entrado nos circuitos brasileiros fora dos períodos de elegibilidade definidos pela Academia.[8]

Em 1996, após 33 anos, o Brasil voltou a ingressar no rol dos 5 indicados ao "Oscar de Melhor Filme Internacional" com o romance O Quatrilho, de Fábio Barreto. O filme brasileiro conseguiu desbancar outras 36 produções inscritas,[9] mas no certame final foi superado pelo longa holandês Antonia, de Marleen Gorris.[10] Em 1998, o drama O Que É Isso, Companheiro?, dirigido por Bruno Barreto, também conseguiu o feito de ser um dos cinco finalistas dentre os 44 inscritos do mundo inteiro.[11] O vencedor, no entanto, foi novamente um filme holandês; o drama Karakter, de Mike van Diem.[12] No ano seguinte, foi a vez de Central do Brasil, de Walter Salles, ser um dos cinco finalistas de um total de 45 inscritos.[13] Na ocasião, o vencedor foi a comédia dramática italiana A Vida É Bela, dirigida e estrelada por Roberto Benigni.[14]

2008 marca a última vez que o país foi pré-selecionado, com o drama O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias, do diretor Cao Hamburger, entre os 63 filmes de todo o mundo que haviam sido inscritos para aquela edição o filme configurou entre os nove mais votados, apesar do feito o filme não apareceu na lista dos 5 finalistas do Oscar 2007.[15]

2023 completa-se 25 anos sem novas nomeações do Brasil na categoria. Nem mesmo produções de sucesso internacional, como o filme Cidade de Deus, de Fernando Meirelles, indicado em quatro outras categorias no Oscar 2004, incluindo "Melhor Diretor"[16].

Estatísticas e Curiosidades

Cacá Diegues, diretor de sete representantes brasileiros ao Oscar de Melhor Filme Internacional.

Os filmes representantes do Brasil são geralmente dos gêneros drama, dramédia e policial. Para a edição de 2021, pela primeira vez (e única, até então) um documentário foi o escolhido.[17]

Cacá Diegues é responsável por sete obras selecionadas como representantes do Brasil no Oscar, mais que qualquer outro cineasta. Entretanto, nenhum de seus trabalhos conseguiu uma indicação. Em seguida, Nelson Pereira dos Santos teve quatro de seus filmes representando o país; onde nenhum conseguiu ser finalista. Bruno Barreto e Walter Salles foram lembrados três vezes cada e ambos tiveram um de seus filmes entre os indicados.

Pixote, a Lei do Mais Fraco (1980) e Carandiru (2003), ambos do argentino Héctor Babenco; e A Faca e o Rio (1972), do franco-holandês George Sluizer; são os únicos filmes representantes brasileiros realizados por cineastas estrangeiros.

A Hora da Estrela (1985), de Suzana Amaral; Que Horas Ela Volta? (2015), de Anna Muylaert; e Babenco - Alguém Tem que Ouvir o Coração e Dizer: Parou (2019), de Bárbara Paz; são os três únicos filmes dirigidos por mulheres a representar o Brasil no Oscar.[18]

CineastaNúmero de
representantes
Cacá Diegues7
Nelson Pereira dos Santos4
Bruno Barreto e Walter Salles3
Hector Babenco, Luís S. Person, Glauber Rocha, Kleber Mendonça Filho e Fábio Barreto2

Representantes

Durante muitos anos, o representante brasileiro foi escolhido pela Empresa Brasileira de Filmes (Embrafilme). O representante de 1996 foi selecionado por uma comissão independente montada por Luiz Carlos Barreto, no qual foi escolhido um filme produzido por ele mesmo e dirigido por seu filho, Fábio Barreto.[19] A partir da edição 1997, a escolha ficou a cargo da Secretaria do Audiovisual, do Ministério da Cultura.[20] Atualmente, o candidato do país é selecionado por uma comissão montada pela Academia Brasileira de Cinema (ABC).[21]

Obs.: O ano refere-se ao de realização da cerimônia. O representante brasileiro é sempre definido no ano anterior.

Ano
(Cerimônia)
TítuloDiretorLíngua (s)ResultadoRef.
1961
(33.ª edição)
A Morte Comanda o CangaçoCarlos Coimbra
Walter Guimarães Motta
PortuguêsNão Indicado[5]
1963
(35.ª edição)
O Pagador de PromessasAnselmo DuarteIndicado[5][7]
1965
(37.ª edição)
Deus e o Diabo na Terra do SolGlauber RochaNão Indicado[5]
1966
(38.ª edição)
São Paulo, Sociedade AnônimaLuís Sérgio PersonNão Indicado[5]
1968
(40.ª edição)
O Caso dos Irmãos NavesNão Indicado[5]
1969
(41.ª edição)
As AmorosasWalter Hugo KhouriNão Indicado[5]
1970
(42.ª edição)
O Dragão da Maldade contra o Santo GuerreiroGlauber RochaNão Indicado[5]
1971
(43.ª edição)
Pecado MortalMiguel Faria Jr.Não Indicado[5]
1972
(44.ª edição)
Pra Quem Fica, TchauReginaldo FariaNão Indicado[5]
1973
(45.ª edição)
Como Era Gostoso o Meu FrancêsNelson Pereira dos SantosPortuguês,
Francês,
Tupi
Não Indicado[5]
1974
(46.ª edição)
A Faca e o RioGeorge SluizerPortuguêsNão Indicado[5]
1975
(47.ª edição)
A Noite do EspantalhoSérgio RicardoNão Indicado[5]
1976
(48.ª edição)
O Amuleto de OgumNélson Pereira dos SantosNão Indicado[5]
1977
(49.ª edição)
Xica da SilvaCacá DieguesNão Indicado[5]
1978
(50.ª edição)
Tenda dos MilagresNélson Pereira dos SantosNão Indicado[5]
1979
(51.ª edição)
A Lira do DelírioWalter Lima Jr.Não Indicado[5]
1980
(52.ª edição)
Bye Bye BrasilCacá DieguesNão Indicado[5]
1981
(53.ª edição)
Pixote, a Lei do Mais FracoHector BabencoDesclassificado[8]
1984
(56.ª edição)
Memórias do CárcereNelson Pereira dos SantosNão Indicado[5]
1986
(58.ª edição)
A Hora da EstrelaSuzana AmaralNão Indicado[5][18]
1987
(59.ª edição)
Um Trem para as EstrelasCacá DieguesNão Indicado[5][18]
1988
(60.ª edição)
Romance da EmpregadaBruno BarretoNão Indicado[5][18]
1989
(61.ª edição)
Dias Melhores VirãoCacá DieguesNão Indicado[5][18]
1991
(63.ª edição)
A Grande ArteWalter SallesPortuguês,
Inglês,
Espanhol
Não Indicado[18]
1996
(68.ª edição)
O QuatrilhoFábio BarretoPortuguês,
Vêneto,

Talian

Indicado[5][10][18]
1997
(69.ª edição)
Tieta do AgresteCacá DieguesPortuguêsNão Indicado[5][18]
1998
(70.ª edição)
O Que É Isso, Companheiro?Bruno BarretoPortuguês,
Inglês
Indicado[5][12][18]
1999
(71.ª edição)
Central do Brasil[nota 1]Walter SallesPortuguêsIndicado[5][14][18]
2000
(72.ª edição)
OrfeuCacá DieguesNão Indicado[5][18]
2001
(73.ª edição)
Eu, Tu, ElesAndrucha WaddingtonNão Indicado[5][18]
2002
(74.ª edição)
Abril DespedaçadoWalter SallesNão Indicado[5][18]
2003
(75.ª edição)
Cidade de Deus[nota 2]Fernando MeirellesNão Indicado[5][18]
2004
(76.ª edição)
CarandiruHector BabencoNão Indicado[5][18]
2005
(77.ª edição)
OlgaJayme MonjardimPortuguês,
Alemão
Não Indicado[5]
2006
(78.ª edição)
2 Filhos de FranciscoBreno SilveiraPortuguêsNão Indicado[5][18]
2007
(79.ª edição)
Cinema, Aspirinas e UrubusMarcelo GomesNão Indicado[5][18]
2008
(80.ª edição)
O Ano em Que Meus Pais Saíram de FériasCao HamburgerPortuguês,
Iídiche
Pré-Indicado[5][15][18]
2009
(81.ª edição)
Última Parada 174Bruno BarretoPortuguêsNão Indicado[5][18]
2010
(82.ª edição)
Salve GeralSérgio RezendeNão Indicado[5][18]
2011
(83.ª edição)
Lula, o Filho do BrasilFábio BarretoNão Indicado[5][18]
2012
(84.ª edição)
Tropa de Elite 2: o Inimigo agora É OutroJosé PadilhaNão Indicado[5][18]
2013
(85.ª edição)
O PalhaçoSelton MelloNão Indicado[5][18]
2014
(86.ª edição)
O Som Ao RedorKleber Mendonça FilhoNão Indicado[5][18]
2015
(87.ª edição)
Hoje Eu Quero Voltar SozinhoDaniel RibeiroNão Indicado[5][18]
2016
(88.ª edição)
Que Horas Ela Volta?Anna MuylaertNão Indicado[5][18]
2017
(89.ª edição)
Pequeno SegredoDavid SchürmannPortuguês,
Inglês
Não Indicado[5]
2018
(90.ª edição)
Bingo: O Rei das ManhãsDaniel RezendeNão Indicado[23]
2019
(91.ª edição)
O Grande Circo MísticoCacá DieguesPortuguêsNão Indicado[24]
2020
(92.ª edição)
A Vida InvisívelKarim AïnouzNão Indicado[25]
2021
(93.ª edição)
Babenco - Alguém Tem que Ouvir o Coração e Dizer: ParouBárbara PazNão Indicado[26]
2022
(94.ª edição)
Deserto ParticularAly MuritibaNão Indicado[27]
2023
(95.ª edição)
Marte UmGabriel MartinsNão Indicado[28]
2024
(96.ª edição)
Retratos FantasmasKleber Mendonça FilhoNão Indicado[29]

Controvérsias

Mudanças no título de O Pagador de Promessas

Durante as nomeações para o Oscar 1963, O Pagador de Promessas foi anunciado como The Given Word (A Palavra de Compromisso). Anselmo Duarte, diretor do filme, não gostou de ver sua obra com outro título e recusou-se a comparecer a cerimônia da Academia. Em 2004, ao relembrar o ocorrido, Duarte fez duras críticas ao Oscar chamando-o de "nojento", e sobre seu boicote à premiação disse: "Tive o convite para assistir a cerimônia, passagens de avião, hotel pago e tudo mais e recusei tudo. Não concordei com o fato de ver O Pagador concorrer com outro título, The Given Word, que nada tem a ver com o nome original dado pelo Dias Gomes, autor da peça que inspirou o filme". [...] "Em Cannes, onde O Pagador foi premiado, não houve mudanças".[30]

Sessões abandonadas nas exibições de Cidade de Deus

Segundo o jornal Folha de S. Paulo, durante as exibições de Cidade de Deus para a Comissão do Oscar de Melhor Filme Internacional de 2003, boa parte dos membros da Academia se recusaram a assistir o longa e deixaram a sala antes do término da projeção. O motivo teria sido o alto nível de violência presente no filme.[31]

Recorrência de escolhas "inesperadas"

Embora na maioria das vezes o representante brasileiro seja escolhido sem grandes surpresas, em algumas ocasiões, a comissão responsável pela escolha surpreendeu em sua decisão.

Em 2008, acreditava-se que, Tropa de Elite, vencedor do Urso de Ouro no Festival de Berlim, fosse escolhido como representante do país, contudo, a comissão selecionou o longa O Ano Em Que Meus Pais Saíram de Férias. Um dos integrantes do júri, o crítico Rubens Ewald Filho, justificou a escolha: "Não estamos escolhendo o melhor filme do ano e sim aquele que vai representar o Brasil em uma seleção para um prêmio americano". [...] "Esses velhinhos [referindo-se aos votantes do Oscar] certamente não gostariam de ver Tropa de Elite".[32] Apesar da polêmica, o filme escolhido foi um dos mais votados pela Academia.

Em 2011, uma enquete realizada pelo MinC através de seu site oficial, indicou Nosso Lar como o favorito do público com mais de 70% dos votos, no entanto, o júri optou pelo filme Lula, o Filho do Brasil, escolha contestada por detratores do então ex-presidente Lula como suposta propaganda/interferência política.[33]

Em 2016, a expectativa era alta para que Aquarius, filme de Kleber Mendonça Filho indicado a Palma de Ouro no Festival de Cannes de 2016, fosse o representante brasileiro, mas Pequeno Segredo acabou sendo o escolhido. A escolha chegou a ser apontada como uma retaliação do governo Michel Temer ao protesto feito pela equipe e elenco, no tapete vermelho da estreia do filme em Cannes, contra o processo de impeachment de Dilma Rousseff, que naquela altura ainda estava em andamento.[34] No início de agosto de 2016, o anúncio dos nove jurados que comporiam a comitiva de seleção daquele ano gerou nova polêmica, com críticas à escolha do jornalista Marcos Petrucelli para integrar a comissão. Isto se deve ao fato de Petrucelli, meses antes, haver atacado o ato da equipe de Aquarius em Cannes, além de acusá-la de ter usado verbas públicas para a viagem ao festival.[35][36] Iniciou-se um debate na mídia sobre uma possível "censura" ao filme por parte do governo, naquela altura, interino.[37][38] Por consequência, em solidariedade a Aquarius, três cineastas anunciaram que retirariam a candidatura de seus respectivos filmes da disputa: Boi Neon, de Gabriel Mascaro; Mãe Só Há Uma, de Anna Muylaert; e Para Minha Amada Morta, de Aly Muritiba.[36] Petrucelli negou partidarismo, afirmando que escolheria o filme "com maior chance de representar o país numa possível disputa ao Oscar".[39] Por sua vez, o Ministério da Cultura afirmou que "a escolha [dos jurados] se deu após ouvidas entidades representativas do setor".[35]

Para a edição de 2020, tanto a comissão analisadora como os críticos de cinema ficaram divididos sobre qual filme deveria representar o Brasil, uma vez que o país tinha dois fortes candidatos: Bacurau e A Vida Invisível, ambos premiados no Festival de Cannes.[40] A reunião entre os nove integrantes da comissão analisadora levou cerca de duas horas, onde A Vida Invisível recebeu cinco votos, enquanto Bacurau ficou em segundo lugar, com quatro; os outros 10 filmes analisados não receberam nenhum voto.[41] Decisão que gerou amplo debate nas redes sociais[42]. Anna Muylaert, diretora da comissão, afirmou: "Houve uma discussão de alto nível. Não houve unanimidade, embora todos tenham gostado do filme escolhido".[43]

Ver também

Notas e referências

Notas

Referências