Iluminismo escocês

O Iluminismo Escocês (em inglês: Scottish Enlightenment) refere-se ao período, no século XVIII, na Escócia, caracterizado por um grande aparecimento de intelectuais e obras científicas, rivalizando com qualquer outra nação, em qualquer momento da história sendo uma base economicista fundante deste pensamento.[1] O que tornou ainda mais notável foi que ela teve lugar num país que estava entre os mais pobres e era considerado um dos mais atrasados da Europa Ocidental, antes dessa data.

David Hume e Adam Smith na Scottish National Portrait Gallery

Na visão de Hugo Cerqueira, o cenário escocês no período de transição entre a pré-modernidade e o mundo moderno carregou suas particularidades. Na Escócia, segundo as análises kantianas, o iluminismo trouxe características como a autonomia do sujeito, a preocupação com o esclarecimento e a educação.[2] Assim, o autor pontua que a Escócia não é mera fragmentação do iluminismo inglês, não sendo prudente “desconsiderar a presença de particularidades significativas, seja no que diz respeito às origens do movimento, seja no que tange a seu significado, sua motivação e suas características".[3] Diferente de sua contraparte continental, a versão escocesa do iluminismo não se opunha aos valores do cristianismo nem à religiosidade como um todo.

Para alguns pensadores, como Hugh Trevor-Hoper e John Robertson, as reflexões do esclarecimento escocês, centradas em um grupo de intelectuais, estariam ligadas às temáticas pertinentes à filosofia moral, à história, à economia política, afastando-se das discussões sobre as ciências naturais e direcionando o pensamento para a defesa do progresso social. Por outro lado, como nas visões de Nicholas Phillipson, Roger Emerson e Paul Wood, a física, a química e a medicina também teriam feito parte das discussões centrais de formação ilustrada da Escócia. Mais do que isso, alertam para a importância das características, do método e dos conceitos das ciências naturais para refletir sobre o comportamento social humano.[4] O caráter de florescimento intelectual escocês, em áreas como a economia, a história, a filosofia moral, a geologia, a astronomia, a química, a arquitetura e as artes acontece como uma reação à crise econômica e ao novo quadro de dependência política com a Inglaterra. O esclarecimento surge para os escoceses como parte de uma forma de superação do novo caráter sujeito do Estado.[5]

Além das reformulações curriculares feitas nas universidades escocesas a partir da Revolução Gloriosa,[6] no final do setecentos passa a ser adotada uma postura educacional voltada a constituição de valores sociais julgados como mais benéficos à formação humana. E nesse sentido, “a rejeição dos padrões e modelos adotados pelo aristotelismo e pela escolástica abriu espaço para uma nova compreensão do papel e do sentido da busca do conhecimento”.[7]

Importantes intelectuais associados ao Iluminismo Escocês foram, entre outros: Francis Hutcheson, David Hume, Adam Smith,[8] Thomas Reid, Robert Burns, Adam Ferguson, e James Hutton.

Antecedentes

Os Atos de União de 1707 com a Inglaterra significou o fim do Parlamento da Escócia e o autogoverno autônomo. Os parlamentares, políticos e aristocratas se mudaram para Londres. A lei escocesa, no entanto, foi totalmente separada da lei inglesa, de modo que as cortes de direito civil, advogados e juristas ficaram para trás, em Edimburgo. A sede e a liderança da Igreja Presbiteriana também se manteve, assim como as universidades e os estabelecimentos médicos. Os advogados e os teólogos, em conjunto com os professores, intelectuais, os médicos, cientistas e arquitetos formaram uma nova elite de classe média que dominou Escócia urbana e facilitou o Iluminismo Escocês.[9][10]

Referências

Bibliografia

  • SMITH, A. (1776) A riqueza das nações. São Paulo, Martins Fontes, 2003.
  • CERQUEIRA, Hugo. Sobre a filosofia moral de Adam Smith. Síntese - Revista de Filosofia, v. 35, p. 57-86, 2008.
  • CERQUEIRA, Hugo. A mão invisível de Júpiter e o método newtoniano de Smith. Estudos Econômicos, v. 36, p. 667-697, 2006.
  • CERQUEIRA, Hugo. Adam Smith e o surgimento do discurso econômico. Revista de Economia Politica, v. 24, n. 3, p. 422-441, 2004.
  • CERQUEIRA, H.. Para ler Adam Smith: novas abordagens. Síntese - Revista de Filosofia, v. 32, n. 103, p. 181-202, 2005.
  • CERQUEIRA, H.. Adam Smith e seu contexto: o Iluminismo escocês. Economia e Sociedade, v. 26, p. 1-28, 2006.
  • David Allan. Virtue, Learning and the Scottish Enlightenment: Ideas of Scholarship in Early Modern History. · Edinburgh University Press, 1993. ISBN 978-0-7486-0438-8.
  • Broadie, Alexander. The Scottish Enlightenment: The Historical Age of the Historical Nation. Birlinn 2002. Paperback: ISBN 1-84158-151-8, ISBN 978-1-84158-151-4.
  • Broadie, Alexander, ed. The Cambridge Companion to the Scottish Enlightenment. (Cambridge Companions to Philosophy) Cambridge University Press, 2003. ISBN 978-0-521-00323-0.
  • Bruce, Duncan A. The Mark of the Scots: Their Astonishing Contributions to History, Science, Democracy, Literature, and the Arts. 1996. Hardcover: ISBN 1-55972-356-4, ISBN 978-1-55972-356-5. Citadel, Kensington Books, 2000. Paperback: ISBN 0-8065-2060-4, ISBN 978-0-8065-2060-5.
  • Buchan, James Crowded With Genius: Edinburgh's Moment of the Mind. (Harper Perennial, 2004). ISBN 978-0-06-055889-5.
  • Campbell, R. H. and Andrew S. Skinner, eds. The Origins and Nature of the Scottish Enlightenment (1982), 12 essays by scholars, esp. on history of science
  • Daiches, David, Peter Jones and Jean Jones. A Hotbed of Genius: The Scottish Enlightenment, 1730-1790 (1986), 170pp; well-illustrated introduction
  • Derry, J. F. Darwin in Scotland: Edinburgh, Evolution and Enlightenment. · Whittles Publishing, 2009. Paperback: ISBN 1-904445-57-8.
  • Daiches, David, Peter Jones, Jean Jones (eds). A Hotbed of Genius: The Scottish Enlightenment 1731-1790. (Edinburgh University Press, 1986); ISBN 0-85411-069-0
  • Goldie, Mark. "The Scottish Catholic Enlightenment," The Journal of British Studies Vol. 30, No. 1 (Jan., 1991), pp. 20–62 in JSTOR
  • Graham, Gordon. "Morality and Feeling in the Scottish Enlightenment," Philosophy Vol. 76, No. 296 (Apr., 2001), pp. 271–282 in JSTOR
  • Herman, Arthur. How the Scots Invented the Modern World: The true story of how western Europe's poorest nation created our world & everything in it. Arthur Herman. (Crown Publishing Group, 2001); ISBN 0-609-80999-7.
  • Israel, Jonathan "Scottish Enlightenment and Man's 'Progress'" ch 9 in Democratic Enlightenment: Philosophy, Revolution, and Human Rights 1750-1790 (2011) pp 233-69 excerpt and text search
  • Lenman, Bruce P. Enlightenment and Change: Scotland 1746-1832 (2nd ed. The New History of Scotland Series. Edinburgh University Press, 2009). 280 pp. ISBN 978-0-7486-2515-4; 1st edition also published under the titles Integration, Enlightenment, and Industrialization: Scotland, 1746-1832 (1981) and Integration and Enlightenment: Scotland, 1746-1832 (1992); general survey
  • C J Berry, Social Theory Of The Scottish Enlightenment, Edinburgh University Press 1997, ISBN 0 7486 0864 8
  • Swingewood, Alan. "Origins of Sociology: The Case of the Scottish Enlightenment," The British Journal of Sociology, Vol. 21, No. 2 (Jun., 1970), pp. 164–180 in JSTOR
  • Towsey, Mark R. M. Reading the Scottish Enlightenment: Books and Their Readers in Provincial Scotland, 1750-1820 (2010)
  • CERQUEIRA, H.. Adam Smith e seu contexto: o Iluminismo escocês. Economia e Sociedade, v. 26, p. 1-28, 2006.
  • «Cedeplar UFMG: TRABALHO E TROCA: ADAM SMITH E O SURGIMENTO DO DISCURSO ECONÔMICO». www.cedeplar.ufmg.br 


Este artigo sobre história ou um(a) historiador(a) é um esboço. Você pode ajudar a Wikipédia expandindo-o.