Igi Lola Ayedun
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Igi Lola Ayedun | |
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Nascimento | 1990 (34 anos) São Paulo |
Cidadania | Brasil |
Ocupação | artista visual, curadora, editor de moda, galerista |
Igi Lola Ayedun (1990, São Paulo - Brasil) é uma artista multimédia, editora negra, curadora e galerista brasileira.[1][2][3]
É fundadora e directora da House Of Ayedun (HOA),[4] a primeira galeria black-owned do Brasil[5][6] e do MJOURNAL, publicação digital independente com foco em dispositivos móveis, dedicada às indústrias criativas.[7][8][9]
Para além de ser uma figura de vanguarda no campo da abstração,[10] Ayedun tem sido igualmente reconhecida pela sua contribuição na promoção da diversidade e da inclusão. Hoje, com vinte anos de carreira, é uma das mulheres que comandam o mercado da arte no Brasil.[11]
Actualmente, vive e trabalha na cidade de São Paulo.[10]
Ayedun foi criada em São Paulo. Iniciou o seu percurso no mercado editorial, aos 14 anos, numa grande editora brasileira, a Abril (Revista Capricho),[12][13] uma experiência fundamental que lhe deu a conhecer o mundo da arte.[14] Em 2009, fez um curso de arte contemporânea apesar de, na época, lhe parecer inviável.[14] Com a necessidade de ajudar financeiramente a sua mãe, Ayedun não pôde dedicar-se de imediato à sua carreira,[14] optando por passar quase uma década em Paris, a trabalhar na área da moda[15] e na indústria do luxo.[1] Entre São Paulo e Paris, acumulou colaborações e trabalhos para várias marcas de renome, tais como a Yves Saint Laurent, Neith Nyer, XIMONLEE ou MELISSA, entre outras.[8][16] Foi colunista do Jornal O Estado de S. Paulo, correspondente internacional da ELLE BRAZIL, project manager e editora da L’OFFICIEL BRAZIL, fashion director e co-owner da U+MAG.[8]
Durante o tempo em que viveu na Europa, Ayedun construiu uma valiosa rede de contactos e ganhou significativa experiência em comunicação. Ambas viriam a revelar-se essenciais para o seu futuro.[14]
A sua carreira artística começaria a tomar forma após o seu regresso ao Brasil, em 2017.[15]
O seu trabalho multidisciplinar - que inclui pintura, fotografia, vídeo, escultura digital 3D e som - enfatiza o potencial da cor enquanto testemunho de transações sociais históricas.[1] Ayedun dedica-se, em particular, ao azul[17][18] e a uma investigação genealógica afro-diaspórica.[1] A artista têm-se concentrado em explorar as rotas globais do índigo (ou anil), o legado histórico do lápis-lazúli e a conexão profunda entre esta tonalidade e a ancestralidade africana.[10] De acordo com Arantxa Ciafrino: «O mergulho de Ayedun nessa cor decorre da sua compreensão das técnicas de pintura não-ocidentais e da história que antecede a Europa como protagonista e narradora. Ela reivindica a importância desses tons como uma memória visual transcendental ao longo do tempo e das culturas, que antecede a colonização eurocêntrica do sul global».[19]
Recentemente, a sua obra plástica tem incorporado imagens criadas com recurso a inteligência artificial (nomeadamente, o Midjourney), algoritmos e ondas cerebrais (electroencefalogramas), como forma de superar os limites ópticos da fotografia e do sistema ocular humano.[17][20][21][22]
Neste momento, a sua prática artística centra-se sobretudo na fusão entre a tecnologia e técnicas ancestrais, nomeadamente práticas têxteis, materiais orgânicos - algodão, cera, argila, milho, água - e pigmentos naturais.[1][23] A aprendizagem de técnicas como o Bògòlanfini (Mali), o Adire (Nigéria) e outras práticas, como os curtumes Berberes (Marrocos), foi para si essencial.[1] O seu trabalho não se limita à estética.[1] Ayedun desenvolveu uma linguagem visual única, que abrange elementos culturais e históricos, temas como a identidade, a herança cultural, a memória e a diáspora, as suas raízes afro-brasileiras, questões sociais e políticas.[23] Ayedun acredita que a justaposição de métodos antigos e contemporâneos permite preservar o ancestralismo africano e reivindicar séculos de escravidão e apagamento cultural.[23]
Em 2021, Igi lançou uma colecção de comfortwear agénero a partir do seu próprio trabalho, em parceria com a Renner.[7][24]
Quando Ayedun volta à sua cidade de origem, em 2017, distancia-se da moda e dedica-se em pleno ao seu trabalho como artista. Nesta altura, opta por alugar o seu estúdio a amigos para exposições e residências artísticas.[15] Todavia, só em 2020, durante a pandemia de COVID-19,[5] é se apercebe o quanto o seu espaço era fundamental para a comunidade e para a sua própria identidade criativa.[15] Nesse ano, Ayedun funda a House Of Ayedun (HOA), com o objectivo de propôr «a disrupção do mercado e das instituições de arte contemporânea por meio de um programa contínuo de acção-articulação intervencionista que confronta o núcleo da indústria cultural a partir de uma perspectiva decolonial latino-americana afro-diaspórica».[5]
A HOA nasce assim como uma plataforma online destinada a apoiar os colegas de Ayedun que enfrentavam dificuldades devido ao impacto deste surto global no mercado da arte.[15][25] Apenas dois meses depois, a galeria artist-led participaria na primeira Viewing Room da São Paulo's International Art Fair (SP-ARTE), histórica edição virtual deste renomado evento.[26] A partir de 2022, integraria anualmente a SP-ARTE ROTAS BRASILEIRAS,[5] cujo foco se centra em estreitar laços entre os agentes das cinco regiões do país, valorizando a diversidade e a pluralidade da produção artística deste território.
Ayedun procura oferecer aos artistas condições vantajosas ao nível das comissões de venda e dos royalties de revenda.[5] Na HOA, a galerista também actua como mentora, oferecendo suporte e ferramentas de autogestão e empoderamento.[5] Esta possui ainda um departamento de curadoria interno, oferece apoio psicológico e fomenta a produção colectiva através de reuniões de partilha semanais.[14]
Actualmente, a HOA possui três locais físicos na cidade de São Paulo, a HOA RESIDENCY, a HOA GALLERY e a HOA-HORIZONTE.[5] O primeiro, um espaço de estúdios autofinanciado, tem ainda uma extensão online que corresponde ao projecto HOA FREE ART SCHOOL e a outros programas curatoriais.[5] Em 2021, Ayedun inaugurou um pólo temporário da HOA em Londres.[7][25] Foi ainda responsável pelo HOA MINT FUND, um projeto dedicado a cripto-artistas do Sul Global[27] e pelo NOVA HOA Contemporary Art Festival.[15]
Em pouco tempo, a HOA tornar-se-ia uma presença significativa no mercado latino-americano e internacional.[28][14] Desde 2020, conta já com participações em algumas das maiores feiras de arte do mundo, como a 1-54 CONTEMPORARY AFRICAN ART FAIR,[7] ARCO Madrid, MIART, SZONAMACO, FRIEZE e a ARTISSIMA.[6]
A HOA é hoje um espaço vital para o desenvolvimento e visibilidade de artistas autodidactas, BIPOC, oriundos de comunidades historicamente marginalizadas ou contextos sociais desfavorecidos.[14][29] A galeria tem procurado focar-se num diálogo urgente sobre a importância da representatividade e da equidade no mundo da arte, desafiar a violência racial estrutural e as ideologias colonialistas e trazer atenção internacional para a arte contemporânea brasileira.[14]
Juntamente com Samuel de Saboia, Lucas Andrade, Luiz Felipe Lucas, Felipa Damasco e outros artistas,[1] a CEO paulista estabeleceu, no ano de 2018, o colectivo AEANFDC (Ambiente de Empretecimento da Arte Nacional a Favor da Descolonização Cultural) e a Escola Efémera de Artes Visuais + Publicação, direccionada a artistas negros e LGBTQI+, sempre com uma perspectiva decolonial como ponto de partida.[1][7][8]
Em 2019, sob o conceito Y se beleza fosse um ritual?, Ayedun lançou uma marca de cosméticos naturais, artesanais e produzidos em Marrocos. A sua venda sazonal respeita o tempo de safra dos componentes utilizados.[8]
Sensivelmente na mesma altura em que nascia a HOA, Igi fundou o Ayedunis Bank, uma instituição bancária digital com sua própria moeda - o Ayeduni (AY$).[8] Este encontrava-se alojado no website do MJOURNAL e estava associado à MSHOP, plataforma de e-commerce que a artista criou com o objectivo de disponibilizar conteúdos digitais avulsos ou por assinatura, estudos e análises sobre moda, tendências e cultura, a preços acessíveis, com vista a impulsionar uma nova geração de negócios.[8] De ressalvar que 60% das vendas mensais obtidas pelo Ayedunis Bank se destinavam a um movimento de impacto social que ajudava comunidades em situação de vulnerabilidade no Brasil.[8] Em apenas cinco meses, o MJOURNAL atingiu níveis de sucesso sem precedentes, fazendo com que, em 2020, a empresa de Ayedun passasse a integrar a FLAGCX, o maior grupo de comunicação da América Latina.[8]
2023
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