Hispânicos

Hispânico (em castelhano, hispano) é um termo que se refere a algo que seja relacionado com a Hispânia, ou a pessoas cuja ascendência remonta à Hispânia. É também usado para referir-se a tudo aquilo que tem relação com a Espanha.

O uso do termo nos Estados Unidos

Hispânico e latino são os termos usados nos Estados Unidos para classificar os americanos com origens nos países hispânicos da América Latina ou na Espanha e, em geral, incluem todas as pessoas que se autoclassificam como hispânico ou latino.[1][2][3][4][5] O termo hispânico passou a ser adotado pelo governo americano no início da década de 1970, durante a administração de Richard Nixon[6] e, desde então, vem sendo usado pela mídia. A categoria hispânica também foi incluída no censo americano desde 1980.[7] Devido à popularidade do termo latino no oeste dos Estados Unidos, o governo também adotou esse termo em 1997, e foi usado no censo de 2000.[3][4] A escolha por usar o termo hispânico ou o termo latino depende da região geográfica: os que moram no leste dos Estados Unidos preferem a denominação hispânico, enquanto que aqueles que moram no oeste preferem o termo latino.[3]

Segundo o censo americano, a categoria hispânico ou latino não incluiria os brasileiros ou americanos com origens no Brasil,[3][4][nota 1] pois é específico para pessoas de "cultura ou origem espanhola".[3][4] Tecnicamente falando, pessoas de Portugal ou de origem portuguesa são chamadas de lusitanos. Em Portugal, o termo "hispânico" refere-se a algo relacionado com a Hispânia antiga, a Espanha ou a língua e cultura espanhola.[8] O termo moderno comum para identificar ambas as culturas portuguesa e espanhola sob uma única nomenclatura é "ibérico", e o termo que se refere às culturas derivadas de ambos os países nas Américas é "ibero-americano". Estas designações podem ser mutuamente reconhecidas por pessoas em Portugal e no Brasil, ao contrário de "hispânico", que é totalmente desprovido de qualquer autoidentificação nesses países, e muito pelo contrário, é utilizado para marcar uma clara distinção em relação à cultura dos países vizinhos de língua espanhola (hispânicos) em relação aos de língua portuguesa (lusitanos). Entretanto, o U.S. Department of Labor permite que portugueses e seus descendentes, incluindo aqui os brasileiros, se declarem como hispânicos ou latinos se assim o desejarem, e essa escolha não pode ser contestada. Já o U.S. Department of Transportation e a U.S. Small Business Administration incluem explicitamente portugueses e seus descendentes na definição de hispânico pois Portugal fez parte da Hispânia, nome dado pelos romanos à Península Ibérica.[9] Entretanto, quem preferir se declarar de origem brasileira no censo americano, aparecerá num grupo de ancestralidade separada.[10]

Hispânicos e latinos constituem 16,3% da população americana, ou 50,5 milhões de pessoas,[11] formando o segundo maior grupo étnico americano, depois dos brancos de origem não hispânica.[12] A maioria dos hispânicos tem origens mexicanas (65,5%). Também são numerosos os de origem em Porto Rico, El Salvador, Cuba, República Dominicana e Guatemala.[13]

A população hispânica encontra-se em processo de rápido crescimento, e estimativas demográficas revelam que haverá mais de 80 milhões de hispanos nos Estados Unidos, nos próximos anos.[14]

Identidade étnica

A América Latina é descrita como a região mais diversa do mundo, onde a população foi formada por elementos indígenas, europeus, africanos e asiáticos. Como resultado da diversidade étnica da América Latina, hispânico e latino são considerados, pelo censo americano, como um grupo étnico, e não uma "raça".[15][16] Porém, nos Estados Unidos tem havido uma "racialização" dos latinos. Quando o imigrante latino-americano chega aos Estados Unidos, ele se identifica primariamente como sendo "mexicano", "porto-riquenho" ou "cubano", ou seja, com sua identidade nacional.[17] Porém, à medida que novas ondas de imigrantes latino-americanos têm entrado nos Estados Unidos de diferentes partes da América Central e do Sul, esses nichos populacionais, antes compostos por mexicanos, porto-riquenhos e cubanos, passam a englobar latinos de diversas procedências.[17]

As gerações mais novas desenvolvem diferentes práticas culturais, musicais, políticas, e até religiosas, diferenciando-se dos seus pais, adaptando-se ao meio cultural que habitam. Em alguns casos a língua espanhola deixa de ser a língua dominante e o próprio catolicismo deixa de ser praticado. Somado a isso, desde a década de 1960, as agências governamentais têm propagado que o termo hispânico é o mais correto para designar todas as pessoas provenientes da América Latina. A mídia, o entretenimento, e as agências de publicidade têm, cada vez mais, dado destaque a essa população como se se tratasse de uma comunidade homogênea. Dessa forma, muitas pessoas que antes se identificavam como sendo "mexicanas", "salvadorenhas" ou "cubanas", passam a abraçar uma identidade "latina", o que é denominado como identidade "pan-latina", que engloba pessoas com origens em diversas partes da América Latina. Essas pessoas passam a ser vistas, e a verem a si próprias, como um grupo homogêneo, que não se encaixa na definição de "negro", tampouco na definição de "branco" como usadas nos Estados Unidos, formando um grupo a parte. Porém, ainda há uma grande resistência de muitos latinos em assumir as identidades raciais impostas pela sociedade americana, pois muitos ainda preferem se identificar com as suas origens nacionais, como "mexicano" ou "cubano". Ademais, dentro dos próprios países latino-americanos ainda existem divisões dos nacionais, dependendo da cor da pele, por exemplo.[17]

O estereótipo do latino varia de região para região. Em Miami, latino é sinônimo de cubano, enquanto que em Nova Iorque é sinônimo de porto-riquenho, mas no sudoeste americano refere-se a mexicanos. Para haver uma união dos latinos, tinha que haver um chamariz ou algo que ensejasse essa união. A própria sociedade americana, historicamente racialista, passou a forçar os latinos a assumir uma identidade racial. Alguns tentaram se encaixar no lado "branco" da sociedade americana, tanto que no censo de 2000, 80% dos porto-riquenhos declararam ser brancos. Ser assimilado no lado branco da sociedade parecia ser o mais vantajoso para muitos hispânicos, tanto que a "Association of White Hispanics" ("Associação dos Hispânicos Brancos") fez pressão antes do censo de 2000 para que fosse criada uma categoria para eles. Porém, eles perceberam que isso causaria uma divisão na comunidade hispânica, pois a maioria dos hispânicos não conseguiriam se passar por "brancos".[17] Um outro grupo de hispânicos, na maioria porto-riquenhos também, preferiram criar uma identidade "brown" ("marrom" ou "morena"), uma identidade que significasse solidariedade e resistência dos latinos. Porém, nem a identidade "branca" nem a "morena" funcionariam para ensejar uma união de latinos.[17] Para muitos, o que propicia a união dos hispânicos não é a raça ou o fenótipo, mas os elementos culturais: língua, religião e tradições familiares, valores culturais, estilos musicais e modo de agir. Essa concepção parte do pressuposto de que ser latino não é pertencer a certa raça, pois o latino seria um grupo étnico que englobaria diversas nacionalidades e raças dentro dele. O censo americano absorveu essa ideia, deixando claro que latino não é raça, mas um grupo étnico. Dessa forma, os latinos ora são vistos como uma raça, ora como um grupo étnico. De qualquer maneira, tanto "raça" como "grupo étnico" não são conceitos biológicos, são meras construções sociais, que são inventadas dependendo do contexto e dos interesses envolvidos em determinada sociedade.[17]

Distribuição pelos EUA

População hispânica e latina por estado ou território americano (2000–2010)[18][19]
Estado/TerritórioPop 2000% pop 2000Pop 2010% pop 2010% crescimento
2000-2010
Alabama75 8301,7%185 6023,9%+144,8%
Alaska25 8524,1%39 2495,5%+51,8%
Arizona1 295 61725,3%1 895 14929,6%+46,3%
Arkansas86 8663,2%186 0506,4%+114,2%
California10 966 55632,4%14 013 71937,6%+27,8%
Colorado735 80117,1%1 038 68720,7%+41,2%
Connecticut320 3239,4%479 08713,4%+49,6%
Delaware37 2774,8%73 2218,2%+96,4%
Washington, D.C.44 9537,9%54 7499,1%+21,8%
Florida2 682 71516,8%4 223 80622,5%+57,4%
Geórgia435 2275,3%853 6898,8%+96,1%
Hawaii87 6997,2%120 8428,9%+37,8%
Idaho101 6907,9%175 90111,2%+73,0%
Illinois1 530 26212,3%2 027 57815,8%+32,5%
Indiana214 5363,5%389 7076,0%+81,7%
Iowa82 4732,8%151 5445,0%+83,7%
Kansas188 2527,0%300 04210,5%+59,4%
Kentucky59 9391,5%132 8363,1%+121,6%
Louisiana107 7382,4%192 5604,2%+78,7%
Maine9 3600,7%16 9351,3%+80,9%
Maryland227 9164,3%470 6328,2%+106,5%
Massachusetts428 7296,8%627 6549,6%+46,4%
Michigan323 8773,3%436 3584,4%+34,7%
Minnesota143 3822,9%250 2584,7%+74,5%
Mississippi39 5691,4%81 4812,7%+105,9%
Missouri118 5922,1%212 4703,5%+79,2%
Montana18 0812,0%28 5652,9%+58,0%
Nebraska94 4255,5%167 4059,2%+77,3%
New Hampshire20 4891,7%36 7042,8%+79,1%
New Jersey1 117 19113,3%1 555 14417,7%+39,2%
New Mexico765 38642,1%953 40346,3%+24,6%
New York2 867 58315,1%3 416 92217,6%+19,2%
Nevada393 97019,7%716 50126,5%+81,9%
North Carolina378 9634,7%800 1208,4%+111,1%
North Dakota7 7861,2%13 4672,0%+73,0%
Ohio217 1231,9%354 6743,1%+63,4%
Oklahoma179 3045,2%332 0078,9%+85,2%
Oregon275 3148,0%450 06211,7%+63,5%
Pennsylvania394 0883,2%719 6605,7%+82,6%
Rhode Island90 8208,7%130 65512,4%+43,9%
South Carolina95 0762,4%235 6825,1%+147,9%
South Dakota10 9031,4%22 1192,7%+102,9%
Tennessee123 8382,2%290 0594,6%+134,2%
Texas6 669 66632,0%9 460 92137,6%+41,8%
Utah201 5599,0%358 34013,0%+77,8%
Vermont5 5040,9%9 2081,5%+67,3%
Virginia329 5404,7%631 8257,9%+91,7%
Washington441 5097,5%755 79011,2%+71,2%
West Virginia12 2790,7%22 2681,2%+81,4%
Wisconsin192 9213,6%336 0565,9%+74,2%
Wyoming31 6696,4%50 2318,9%+58,6%
Samoa Americana
Guam
Marianas Setentrionais
Porto Rico3 762 74698,8%3 688 45599,0%-2,0%
Ilhas Virgens Americanas15 19614,0%
Estados Unidos35 305 81812,5%50 477 59416,3%+43,0%

Galeria de hispânicos e latinos

Notas

Referências