Filho de Deus

expressão bíblica que se refere, na grande maioria das vezes, a Jesus Cristo

Filho de Deus é uma expressão encontrada no Antigo Testamento (ou Bíblia Hebraica) e em vários outros textos judaicos e no Novo Testamento. Nas Escrituras hebraicas, de acordo com a tradição judaica, relaciona-se a vários sujeitos distintos, a anjos, seres humanos e, até mesmo, a toda humanidade. De acordo com a maioria dos estudiosos cristãos, a expressão se refere ao relacionamento entre Jesus Cristo e Deus, assim como ao relacionamento experimentado por todos os crentes fiéis a Jesus (cf. João 1:12).

Uma terminologia similar estava presente antes, durante e depois do ministério de Jesus e em seu pano de fundo histórico-cultural. Augusto, imperador de Roma, era chamado de Divi filius (filho do divinizado Júlio César): esta expressão, e não Dei filius (filho de Deus), era a que se utilizava em latim. Já em grego, a expressão huios theou aplicava-se a ambos os casos. No entanto, huios theou é usado em relação a Jesus apenas três vezes no Novo Testamento. Ele é, na maior parte das vezes, descrito como ho huios tou theou: não apenas "um filho de Deus", mas "o filho de Deus", especialmente em profissões de fé como Atos 8:37, Atos 9:20, I João 4:15, I João 5:5 e João 20:31.

Historiadores acreditam que Alexandre, o Grande via-se como semideus, ao usar como título a expressão "Filho de Amon-Zeus" (diz-se de sua mãe, Olímpia, haver declarado que Zeus a engravidara enquanto dormia debaixo de uma árvore consagrada ao deus). O título foi atribuído a ele por sacerdotes egípcios do deus Amon, no oráculo junto ao oásis de Siwah, no deserto líbio.

Enquanto reis e heróis eram tratados como filhos de algum deus em particular dentre os muitos do universo politeísta, Jesus é - para os cristãos monoteístas - o filho do único Deus.

Pelo método histórico

Nos evangelhos, o ser de Jesus como "filho de Deus" corresponde exatamente aos hassidim da Galileia, homens santos e "piedosos" que, por intervenção divina, realizam milagres e exorcismos[1][2] - opinião que não é sustentada por todos (cf. abaixo "Filho de Deus" no Novo Testamento).

Na perspectiva judaica

No Antigo Testamento

No Antigo Testamento, a expressão "filho(s) de Deus" tem um significado um tanto obscuro: há uma série de interpretações recentes. A tradução usual vem, provavelmente, da Septuaginta, que se utiliza da expressão Uioi Tou Theou ("filhos de Deus") para traduzir o correspondente hebraico.

  • A expressão hebraica Benei Elohim, traduzida geralmente como "filhos de Deus", é entendida por alguns como a descrição de anjos ou seres humanos imensamente poderosos. Esta perspectiva segundo a qual a terminologia descreveria seres não-divinos vem, provavelmente, da tradução aramaica do Targum, que usa a expressão Bnei Ravrevaya ("filhos de nobres").
  • Em alguns casos, a expressão denota um governante ou juiz humano (Salmos 82:6, por exemplo: "filhos do Altíssimo"; podem-se equalizar, em muitas passagens como essa, os termos "deuses" e "juízes"). Num sentido mais específico, "filho de Deus" é um título aplicado ao rei, ideal ou real, de Israel (cf. II Samuel 7:14, fazendo menção ao rei Davi e aos seus descendentes que manteriam sua dinastia; cf. também. Salmos 89:27,28).
  • Quando personificado, Israel é chamado de "filho" de Deus, utilizando-se, para isso, a forma singular (cf. Êxodo 4:22 e Oséias 11:1).

No judaísmo, a expressão "filho de Deus" raramente é usada no sentido de "Messias" ou "Ungido". O texto de Salmos 2:1-12 refere-se ao rei de Sião, escolhido por Deus, como messias do Senhor (um rei ungido) e filho de Deus.

Na literatura judaica que acabou por não ser aceita como parte da Bíblia Hebraica, mas que é aceita por muitos cristãos como Escritura Sagrada (os livros deuterocanônicos ou apócrifos), há passagens em que o título "filho de Deus" é atribuído a um ungido ou ao Messias (e.g. Enoque 55.2; IV Esdras 7.28,29; 13.32,37,52; 14.9). O título também pertence a todo aquele cuja piedade o colocou numa relação filial com Deus (cf. Sabedoria 2.13,16,18; 5.5, onde "os filhos de Deus" são idênticos a "os santos"; cf. Eclesiástico 4.10). Especula-se que, por conta do uso freqüente destes livros pelo Cristianismo primitivo em polêmica com os judeus, o Sínodo de Jâmnia os tenha rejeitado por volta do ano 80.

"Filho de Deus" no Novo Testamento

Durante todo o Novo Testamento (ver "Passagens do Novo Testamento", a seguir), a expressão "filho de Deus" é aplicada repetidamente, no singular, apenas para Jesus, com a possível exceção de Lucas 3:38 (no final da genealogia de Jesus cuja ascendência volta até Adão), onde podia argumentar-se que Adão está implicitamente[3] sendo chamado de Filho de Deus. "Filhos de Deus" é aplicado aos outros apenas no plural.[4] O Novo Testamento chama Jesus de "Filho Único de Deus" João 1:8, I João 4:9), "Seu próprio Filho" Romanos 8:3). Também refere-se a Jesus simplesmente como "o Filho", especialmente quando "o Pai" é usado para se referir a Deus, como nas frases "do Pai e do Filho", "o Pai e também o Filho". Mateus 28:19, II João 1:9).

Interpretação de John Dominic Crossan

John Dominic Crossan no livro God and Empire: Jesus Against Rome, Then and Now (2007), diz que: "há um ser humano do primeiro século, que foi chamado de Divino, Filho de Deus, Deus e Deus dos deuses, e cujos títulos foram Senhor, Redentor, Libertador e Salvador do Mundo. Os cristãos provavelmente irão pensar que esses títulos foram originalmente criadas e aplicadas exclusivamente a Cristo. Mas antes de Jesus ter existido, todos esses termos pertenciam a César Augusto".

Crossan cita que a adoção dos mesmos pelos primeiros cristãos para referi-se a Jesus era uma forma de negar-los a César Augusto. "Eles estavam tirando a identidade do imperador romano e dando-lhe a um judeu camponês. O que era ou uma brincadeira e uma particularidade muito baixa, ou o que era pelos romanos chamado majistas e que nos conhecemos como alta traição".[5]

Imperador Augusto como filho de um deus, não Filho de Deus

Em 42 a.C., Júlio César foi formalmente deificado como "o divino Júlio" (divus Iulius),[6] Seu filho adotado, Otávio (mais conhecido pelo título "Augusto") o recebeu 15 anos depois, em 27 a.C., e, portanto, tornou-se conhecido como "divi Iuli filius" (filho do divino Júlio)[7] ou simplesmente "divi filius" (filho do deus).[8] Ele usou esse título para aumentar sua influência e posição política, e acabou superando todos rivais pelo poder dentro do estado romano.[9] O título foi para ele "uma útil ferramenta propagandística", e foi exibida no moedas que ele cunhou.[10]

A palavra aplicada a Júlio César como deificado é "divus", não a distinta palavra "dei".[11] Assim foi Augustus Chamado "Divi filius", mas nunca "Dei filius", a expressão aplicada a Jesus na Vulgata, a tradução do Novo Testamento, como, por exemplo, em 1 João 5:5[ligação inativa], e em traduções Latinas anteriores, como ficou provado com o texto Vetus Latina "Inicium evangelii Ihesu Christi filii dei" preservados no Codex Gigas. Como filho de Júlio César, Augusto foi referido como o filho de um deus, não como o filho de Deus, que foi a forma como os cristãos monoteístas se referiam a Jesus.[12]

O Grego não têm uma distinção correspondente a que existe no Latim entre "divus" e "dei". "Divus" foi, assim, traduzido como "θεός", a mesma palavra utilizada para os deuses olímpicos, e "divi filius" como "θεοῦ υἱός" (theou huios),[13] e, uma vez que não inclui os artigos gregos, e estando em um contexto politéista, refere-se ao filho de um deus entre muitos, no caso Júlio César e seu "divi filius" Augustus. No contexto monoteísta do Novo Testamento, a mesma frase[14] se refere ao filho do Deus único. Com efeito, no Novo Testamento, Jesus é mais frequentemente referido como " υἱὸς τοῦ θεοῦ" (ho huios tou theou), O filho de Deus.[15]

Jesus como o Messias

A descrição "filho de Deus" é aplicada no Antigo Testamento e outros escritos judaicos para reis e, em particular, para o aguardado Messias (uma palavra que literalmente significa uma pessoa ungida e que, no Antigo Testamento foi aplicado aos reis e outros líderes e foi traduzido para o grego como Χριστός (Christos), uma palavra de significado semelhante ao "Cristo" da língua portuguesa).

O título do Messias ou Cristo foi era também aplicado a um cargo político. O Novo Testamento poderia, assim, ser entendida como ameaça a autoridade política de César, que usara o título "Divi Filius" (filho do divinizado [anterior imperador]), como mostrado na literatura, moedas e incrisções da época.

Cristãos

No Evangelho de João, o autor escreve que "Mas, a todos quantos o receberam [Jesus], aos que crêem no seu nome, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus" (João 1:12). A expressão "filhos de Deus" é utilizada dez vezes no Novo Testamento.[16] A estes, podem ser adicionados os cinco casos, mencionadas acima, em que o Novo Testamento fala de "filhos de Deus". Como é evidente, essas frases, sempre no plural, não é usados no sentido exclusiva que é dada a expressão "o Filho de Deus" aplicado a Jesus no Novo Testamento.

Uso atual

Atualmente, o Filho de Deus, é quase sempre, em contextos religiosos, uma referência a Jesus Cristo, "um filho de Deus" pode ser usado para se referir a um dos "filhos de Deus", referindo-se a toda a humanidade, a todos os cristãos ou a um grupo mais restrito.

"Filho de um Deus" em outras crenças

Humanos ou parcialmente-humanos descendentes de deidades são muito comuns em outras religiões e mitologias. Um grande número de panteões também incluem genealogias em que vários deuses eram descendentes de outros deuses, e assim, a expressão "filho de um deus" pode ser aplicado a muitas deidades entre si.

Mitologia antiga

A mitologia antiga contém muitos personagens com um pai humano e um pai deus, como Hércules filho de Zeus e Alcmena, e Eneias, filho de Afrodite e Anquises, na mitologia grega; Hórus filho de Osíris e Ísis, na mitologia egípcia; e Thor, filho de Odin e Jord, na mitologia nórdica[17].

Nas culturas grega e romana, na qual o cristianismo se expandiu após a sua primeira divisão do Judaísmo, os conceitos de semideuses, filhos ou filhas de um deus, como na história de Perseus, eram comumente conhecidos e aceitos.

Outros movimentos

Os Elcasaitas, com características magico-astrológico aparece cerca do ano 100 na Jordânia, foi fundada por Elkasaï e cujo Livro de Elcasai lhe teria sido inspirado por um anjo que se proclamava Filho de Deus[18]

No movimento Rastafari é Haile Selassie, que é considerada como o Deus Filho, como uma parte da Santíssima Trindade. Ele nunca aceitou a ideia oficialmente.

Na Epopéia de Gilgamesh, uma das primeiras lendas da humanidade, Gilgamesh dizia ser de descendência humana e divina.

Na Igreja Mundial do Messias

Quando Jesus disse que era o Messias, ele também afirmou que nós poderíamos tornar-nos seus irmãos e irmãs se fizéssemos a vontade de Deus e que cada um de nós precisaria nascer de novo para ver o Reino de Deus. Nascer de novo como filhos de Deus, como Messias, é o que todos os seres humanos na Terra devem almejar, ou melhor, esse é o nosso destino determinado por Deus.[19]

Passagens do Novo Testamento

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O diabo ou demônios chamam Jesus de Filho de Deus

Humanos, incluindo os escritores do Novo testamento, chamam Jesus de Filho de Deus

Atribuídos ao próprio Jesus

Não está claro se é atribuído ao próprio Jesus ou se é apenas um comentário do evangelista

  • ὀ υιὸς τοῦ θεοῦ (ho huios tou theou)

Jesus se referindo à ὀ υιός (ho huios)

Ver também

Notas