Epopeia do Povo Mexicano

pintura mural por Diego Rivera na Cidade do México, México

Epopeia do Povo Mexicano ou História do México através dos séculos é um afresco do pintor mexicano Diego Rivera realizado na escadaria principal do Palácio Nacional entre 1929 e 1935 sob encomenda de José Vasconcelos, o então Secretário de Educação Pública do país.[1][2] A obra traça um panorama histórico da formação cultural do povo mexicano através de eventos políticos significativos na história do país, começando com a Colonização pelo Imperio Espanhol e chegando aos idos da Revolução de 1910.[3] O mural foi restaurado em 2009 por conta das comemorações do Bicentenário da Independência do país.[4][5]

Epopeia do Povo Mexicano
Epopeya del pueblo mexicano
Epopeia do Povo Mexicano
AutorDiego Rivera
Data1929 - 1935
GéneroMuralismo mexicano
TécnicaAfresco
EncomendadorPresidência do México
LocalizaçãoPalácio Nacional, Cidade do México

O afresco cobre uma área total de 276 m², sendo subdivido em três seções: duas laterais de 7,49 x 8,85 m e uma central de 8,59 x 12,87 m.[6] Sobre a parede direita, está retratado o México pré-hispânico através do mito de Ce Ácatl Topiltzin Quetzalcóatl; a parte central e maior representa o povo mexicano desde a Conquista espanhola até a década de 1930; a parte esquerda, por fim, retrata uma visão marxista do país durante o século XX.

Diego Rivera: o artista

Ver artigo principal: Diego Rivera
Diego Rivera na Casa Azul.

Diego Rivera é um dos mais reconhecidos artistas mexicanos. De afiliação comunista, criticou duramente o governo mexicano pelo que considerava uma subserviência às potências estrangeiras. Rivera nasceu em uma rica família judia de Guanajuato, mas tornou-se ateu ao longo de sua vida.[7] Quando jovem, estudou na Academia de San Carlos, uma prestigiada escola de arte da Cidade do México.[8][9] Após seus estudos, viajou pela Europa, onde entrou em contato com o movimento cubista, dividindo seu tempo com a técnica do afresco renascentista. De volta ao país natal, o artista passou a incrementar as técnicas europeias à tradução artística de seu povo, sendo que os murais produzidos para o governo mexicano neste período de sua carreira são evidências de sua fase artística original.

Apesar de ter o governo mexicano como cliente para este mural, Rivera sempre se destacou politicamente como um crítico de qualquer tipo de autoridade. Na pintura, buscou exaltar a cultura nativa de sua pátria, como as culturas asteca e zapoteca, opondo-se radicalmente ao mundo capitalista.[10]

A primeira grande obra de Rivera foi o mural "Criação", que levou mais de um ano para ser concluído e retrata vinte figuras relacionadas à história da religião. Além de muralista, Rivera destacou-se como pintor tradicional, tendo preferência por figuras humanas, autorretratos e elementos culturais do povo latino-americano.

O mural

Rivera liderou um projeto muralista do governo mexicano na década de 1920, seguindo o fim da Revolução Mexicana. O projeto tinha finalidade de não somente enaltecer os feitos do movimento revolucionário, como também promover a imagem do então governo como provedor de um novo século para o México. A série de murais foi realizada na Cidade do México entre 1923 e 1939.

Em agosto de 1929, Rivera deu início à pintura de seu grande mural na escadaria principal do Palácio Nacional do México.[11] O palácio, situado em posição dominante no Zócalo, mais importante logradouro público da capital mexicana, foi erguido sobre os escombros do palácio do rei asteca Montezuma II, sendo atualmente o gabinete do Presidente do México e sede da maioria das secretarias executivas federais. O governo mexicano encomendou o mural a uma equipe formada por Rivera, Orozco e Siqueiros.[12] Rivera havia sido encarregado de retratar os indígenas de forma brilhante e criticar os colonos espanhóis, alegorizando o triunfo da Revolução Mexicana sobre o governo de Porfírio Diaz. O mural consiste em quatro seções distintas, uma delas chegando a até 12 metros de altura.

Descrição

Porção sul do mural: "O México de hoje e amanhã".
Porção central do mural: "Da Conquista Espanhola a Revolução Mexicana".
Porção norte do mural: "O Esplendor da cultura asteca".

Seção norte

Esta seção do mural representa a pujança da cultura asteca, com seu povo e seus costumes ancestrais. A cena é encimada por um sol, o deus supremo da mitologia asteca, uma pirâmide e um líder nativo. Os astecas criam na necessidade de sacrificar periodicamente ao deus-sol a fim de manter a ordem no Universo. Diego Rivera retratou tais aspectos mitológicos, assim como a vida cotidiana dos astecas, incluindo os vulcões do Vale do México, mulheres e crianças, o cultivo do milho e atividades artísticas do povo. Outros aspectos místicos abordados são os sacrifícios a serpentes e jaguares. Os rituais astecas são também demonstrados em forma de danças aos deuses.[13]

Seção central

Chegada de Hernan Cortés em Veracruz, conforme retratada por Diego Rivera no mural.

A parte central dos murais resume a história Mexicana como um série de conflitos, rebeliões e revoluções contra a opressão. São basicamente cenas de combate bélico.[13] Rivera pintou mexicanos e nativos comuns se revoltado contra espanhóis e franceses e vários ditadores, destacadamente Porfírio Diaz.[13] No topo, o conquistador Hernan Cortés derrota os líderes astecas e estabelece o domínio espanhol no continente. Logo abaixo, os espanhóis tentam destruir os líderes militares nativos enquanto missionários católicos impõem a nova religião aos sobreviventes. A imagem central é de uma grande serpente devorada pela águia, alegoria representada também na bandeira mexicana.

As imagens laterais representam o período colonial. Um conquistador espanhol sequestra uma nativa. Alguns nativos se unem aos colonizadores enquanto outros são escravizados. Tem início a construção da nova capital colonial. Os nativos escravizados passam a construir muralhas, fortalezas e prédios públicos, como o precedente do próprio Palácio Nacional (onde o mural está localizado), além de prover a alimentação para os conquistadores. Esta parte do mural retrata como os espanhóis suplantaram a tradição asteca impondo costumes e tradições europeias, mais especificamente ibéricas.

Emiliano Zapata, Felipe Carrillo Puerto e José Guadalupe Rodríguez com o estandarte "Tierra y Libertad".

À esquerda do mural central, Rivera retratou a execução de Maximiliano, imperador austríaco do México, significando o fim do domínio europeu no país.[13] O mural enfatiza a figura histórica de Benito Juárez, o único indígena a chegar à presidência do país até hoje e considerado o fundador do México moderno. No topo da porção central do mural, estão os exércitos triunfantes de Emiliano Zapata e Pancho Villa, que lideraram a Revolução alegadamente levando o povo ao poder. Destaca-se uma faixa vermelha com o lema "Tierra y Libertad".[10]

Porção sul

Rivera dedicou esta seção da escadaria a retratar o futuro do país. São representações de fábricas e uma sociedade modernizada, incluindo ainda uma tremulante bandeira soviética e o próprio Karl Marx ao lado de operários e populares.[13] Num canto do mural, o artista mexicano prestou homenagem à sua esposa e também artista Frida Kahlo. Kahlo e sua irmã, Cristina, são retratadas como professoras socialistas prevendo um "glorioso futuro" ao país.[14] Tanto Rivera quanto o governo mexicano à época, encabeçado por Pascual Ortiz Rubio e Abelardo Luján Rodríguez, tinham tendências socialistas.

Referências