Edgar Brasil

diretor de fotografia brasileiro

Edgar Hauschildt (Hamburgo, 1903Cruzeiro, 1954), conhecido como Edgar Brasil, foi um diretor de fotografia brasileiro. É conhecido como o patrono dos diretores de fotografia pelo seu trabalho com o filme Limite (1931).[1]


Biografia

Nasceu em Hamburgo na Alemanha e foi no Rio de Janeiro pela sua mãe, Maria Hauschildt. Seu pai era o fazendeiro Cornélio de Souza Lima, com quem teve pouco contato.

Brasil tem uma curta carreira no Tiro de Guerra, alistando-se aos 18 anos e terminando como cabo em 1923. Nesse mesmo ano, inicia um trabalho como tradutor na Inspetoria para Profilaxia da Lepra e Doenças Venéreas. É lá onde conhece Haroldo Mauro, irmão do cineasta Humberto Mauro. É pela influência de Haroldo que Edgar entra no universo do cinema. Pouco tempo depois, em 1925, compra sua primeira câmera fotográfica. Em 1927 vai para Cataguases, onde inicia, com Humberto Mauro, sua carreira no cinema. [1]

Em Cataguases, Edgar realiza a direção de fotografia dos filmes Brasa Dormida (1928) e Sangue Mineiro (1930). Pouco depois retorna ao Rio de Janeiro e é convidado pela atriz e produtora Carmen Santos para filmar Lábios sem Beijos.

"Para o professor Carlos Augusto Calil esses filmes foram o seu aprendizado na profissão: “Ele imediatamente se destacou pela segurança, inesperada num iniciante, e pelo enquadramento rigoroso, que contribuía para a fluência narrativa desses filmes”. Heffner menciona que Humberto Mauro havia dito que ia trazer um grande fotógrafo do Rio e ficou constrangido em dizer que ele não entendia nada de cinema, mas resolveu correr o risco. “Se você comparar as primeiras imagens feitas por Edgar, no Jockey Club do Rio, com o que sobrou da época, ele já estava no padrão do cinema brasileiro do período e, em alguns momentos, até apresentava uma criação estética mais sofisticada, embora nos primeiros anos ele ainda cometesse muitos erros. Ele já tinha talento suficiente, não só pra se inserir, mas também pra ultrapassar o estágio de criação fotográfica que existia naquele momento. E ele foi incorporado”, complementa o pesquisador." Artigo da Associação Brasileira de cinematografia, Autor Desconhecido - Edgar Brasil: O Patrono Dos Diretores De Fotografia Brasileiros[2]

Em seguida, é convidado por Mário Peixoto para fazer Limite, que viria a ser uma das mais importantes obras do cinema nacional. Na sequência, começa a direção de fotografia do filme Onde a Terra Acaba, com Mário Peixoto e Carmen Santos. O filme não foi concluído e mais tarde o projeto seria retomado por Santos, entregando a direção para Otávio Gabus Mendes, e estrearia na capital carioca em 16 de outubro de 1933. A principal razão pelo abandono do projeto se deve a saida do diretor após uma serie de conflitos com a produtora e a magnitude do projeto. Originalmente, o projeto seria uma adaptação do Livro Senhora de José de Alencar. As filmagens foram realizadas na ilha da Mangaratiba contando com uma enorme equipe tecnica. Peixoto e Santos discordavam sobre o preciosismo a ser dado as imagens.[3] Entretanto, em 1958, grande parte do material se perdeu em um incêndio no estudio da Brasil Vita Filmes. O que resta pode ser visualizado no documentário Onde a terra acaba, dirigdo por Sérgio Machado.

Brasil é então convidado por Adhemar Gonzaga ao cargo de principal diretor de fotografia do estúdio Cinédia. Dá-se, assim, uma virada em sua carreira, migrando dos filmes em locação, praticamente com luz natural, para o cinema de estúdio, com trabalhos mais complexos de iluminação.

Durante cinco anos, Brasil realiza filmes como: Alô, alô, Brasil (1935), Estudantes (1935) e Bonequinha de Seda (1936). O filme Bonequinha de Seda é o primeiro a usar grua, desenhada por ele próprio. Edgar Brasil deixa então a Cinédia para se trabalhar para Carmen Santos na Brasil Vita Filmes e na Sonofilms.

Desse período, seu trabalho mais relevante é Inconfidência Mineira (1948), Dirigido, produzido e protagonizado por Carmem Santos. Igualmente relevante é o seu contato com Watson Macedo.

Em 1942 ele funda o laboratório fotográfico A Figura, através do qual presta serviços de fotografia e produz pesquisas sobre cor. Em 1943 é convidado por Moacyr Fenelon para trabalhar na Atlântida, tornando-se o primeiro diretor do estúdio. Lá ele realiza a fotografia de filmes como Moleque Tião (1943), Gente Honesta (1944),Terra Violenta (1948) e Aviso aos Navegantes (1950). Nesse período ele conhece e trava amizade com o cineasta Roberto Farias.

Em seguida inicia-se o trabalho de Edgar Brasil na companhia paulista Vera Cruz, onde trabalha em filmes como Veneno (1952) e Candinho (1954).

Em 1953, é convidado pelo cineasta Alberto Cavalcanti para dirigir a fotografia de seu filme Mulher de Verdade, na Kino Filmes. Porém, não tem tempo de concluir o trabalho. Morre num acidente de carro na Via Dutra, em 04 de janeiro de 1954.

Limite (1931)

Cartaz do Filme Limite

De tantos filmes em sua cinematografia, um dos sobreviventes é o longa Limite, dirigido por Mário Peixoto. Foi filmado em 1930 e lançado somente em 1931. Na época, Limite não teve grande sucesso comercial, ainda que tenha sido aplaudido por suas qualidades artísticas. Por ter permanecido indisponível por muitos anos, muito se falou sobre o mito de Limite. Quando o filme ressurgiu, recebeu uma enxurrada de críticas positivas, tornado-se um dos filmes brasileiros mais importantes já feitos, reconhecido nacional e internacionalmente.

Edgar Brasil entrou no projeto por intermédio de Humberto Mauro, a quem Mário Peixoto ofereceu o roteiro. O cineasta rejeitou, ainda que tivesse gostado do texto, mas sem antes indicar Brasil para o posto de fotógrafo.

A revista Cinearte cobriu todo o processo de realização do longa, colocando fotografias das filmagens que mostravam Brasil experimentando com a câmera. Dentre essas experimentações, Brasil usou pela primeira vez filtros nas lentes da câmera. Ele também se inspirou no filme de Fritz Lang, Metrópolis, para criar uma prancha de madeira que permitisse movimentos de aproximação e afastamento, bem como subir ou descer a altura da câmera.

Em Limite, Mário Peixoto buscou recriar o ritmo da natureza, ao mesmo tempo em que criava uma dicotomia entre aproximação da natureza versus desnaturalização da imagem. Para isso, pediu que Brasil fotografasse diversos planos usando câmera lenta ou acelerada, criando um ritmo único para a narrativa.

Foi por meio de Brasil que Carmen Santos faria uma participação em Limite. O fotografo trabalhava nos negativos em um laboratório localizado no porão da casa da produtora, com quem cultivava uma amizade profunda. Carmen tomou interesse pelo filme e pelo peculiar estilo do jovem diretor e incubiu Brasil de apresenta-los. Sua intenção seria a contratação de Peixoto para o proximo projeto. O diretor, a fim de testar a motivação da produtora, exigira que a vaidosa mulher participasse de uma das cenas do filme, sem qualquer sombra da glamour ou reconhecimento. Santos cumpriria com a exigência e participaria como uma mocinha no caís, ao fim da obra.

Edgar Brasil estava na equipe do que seria o segundo filme de Mário Peixoto, Onde A Terra Acaba, produzido por Carmen Santos. No entanto, o projeto não teve continuidade, bem como diversos outros filmes de Peixoto que não passaram de roteiros. Como Peixoto abandonou a realização cinematográfica, não voltaram a trabalhar juntos. Após o filme, Brasil ainda teria uma brilhante carreira pela frente, já que filmou Limite com apenas 28 anos.

Os Estilos de Edgar Brasil

A carreira de Edgar Brasil foi voltada majoritariamente para o cinema de estúdio. Por isso, em cada companhia que esteve encontrou diferentes recursos e por isso desenvolveu diferentes tipos de cinema. Enquanto esteve na Cinédia desenvolveu um estilo muito parecido ao hollywoodiano, com elementos e traços de um cinema Art Decó, se voltando para uma cinematografia clássica. Já na Atlântida, devido a limitação técnica Edgar teve um cinema que fazer um cinema mais básico e contido.

É na Vera Cruz e na Kino Filmes que Brasil volta ao trabalho de estúdio de forma criativa e novamente com influências do cinema norte americano, através da iluminação expressionista que lembrava os filme noir hollywoodianos.

Filmografia

Filmografia de Edgar Brasil
AnoObraFunçãoDiretorElenco Principal
1954Mulher de VerdadeDiretor de FotografiaAlberto CavalcantiCarlos Araújo, Adoniran Barbosa, Inezita Barroso
1954CandinhoDiretor de FotografiaAbilio Pereira de AlmeidaAmácio Mazzaropi, Marisa Prado, Ruth de Souza
1952Barnabé, Tu És MeuDiretor de FotografiaJosé Carlos BurleOscarito, Grande Otelo, Fada Santoro
1952É Fogo na RoupaDiretor de FotografiaWatson MacedoAnkito, Violeta Ferraz, Heloísa Helena
1952Era uma Vez um VagabundoDiretor de FotografiaLuiz de BarrosAugusto Aníbal, Noel Carlos, Aparecida de Castro
1952O Rei do SambaDiretor de FotografiaLuiz de BarrosCidália Alves, Valéria Amar, Filomena Bandeira
1952VenenoDiretor de FotografiaGianni PonsLeonora Amar, Anselmo Duarte, Zbigniew Ziembinski
1951Maior Que o ÓdioDiretor de FotografiaJosé Carlos BurleAnselmo Duarte, Ilka Soares, José Lewgoy
1950A Sombra da OutraDiretor de FotografiaWatson MacedoEliana Macedo, Anselmo Duarte, Cecy Medina
1950Aviso aos navegantesDiretor de FotografiaWatson MacedoOscarito, Grande Otelo, Eliana Macedo
1950Não É Nada DissoDiretor de FotografiaJosé Carlos Burle, Watson MacedoHumberto Catalano, Modesto De Souza, Marion
1949Também Somos IrmãosDiretor de FotografiaJosé Carlos BurleGrande Otelo, Aguinaldo Camargo, Vera Nunes
1948É Com Este Que Eu VouDiretor de FotografiaJosé Carlos BurleOscarito, Grande Otelo, Humberto Catalano
1948E o Mundo se DiverteDiretor de FotografiaWatson MacedoOscarito, Grande Otelo, Alberto Ruschel
1948Falta Alguém no ManicômioDiretor de FotografiaJosé Carlos BurleOscarito, Vera Nunes, Modesto De Souza
1948Inconfidência MineiraDiretor de FotografiaCarmen SantosRodolfo Mayer, Carmen Santos, Roberto Lupo
1948Terra ViolentaDiretor de FotografiaEdmond F. Bernoudy (as Edmond Francis Bernoudy), Paulo MachadoAnselmo Duarte, Celso Guimarães, Graça Mello
1947Asas do BrasilDiretor de FotografiaMoacyr FenelonCelso Guimarães, Mary Gonçalves, Paulo Porto
1947Este Mundo É um PandeiroDiretor de FotografiaWatson MacedoOscarito, Humberto Catalano, Olga Latour
1947Luz dos Meus OlhosDiretor de FotografiaJosé Carlos BurleCacilda Becker, Celso Guimarães, Grande Otelo
1946Fantasma Por AcasoDiretor de FotografiaWatson MacedoMesquitinha, Grande Otelo, Humberto Catalano
1946Segura Esta MulherDiretor de FotografiaWatson MacedoMesquitinha, Grande Otelo, Humberto Catalano
1946Sob a Luz do Meu BairroDiretor de FotografiaMoacyr FenelonCésar Ladeira, Milton Carneiro, Humberto Catalano
1945Vidas SolidáriasDiretor de FotografiaMoacyr FenelonMário Brasini, Vanda Lacerda, Mary Gonçalves
1945O Gol da VitóriaDiretor de FotografiaJosé Carlos BurleJorge Amaral, Cléa Barros, João Cabral
1945Não Adianta ChorarDiretor de FotografiaWatson MacedoOscarito, Grande Otelo, Mary Gonçalves
1944Gente HonestaDiretor de FotografiaMoacyr FenelonOscarito, Mário Brasini, Vanda Lacerda
1944Romance de um MordedorDiretor de FotografiaJosé Carlos BurleMaria Batista, Iris Belmonte, Emilinha Borba
1944É Proibido SonharDiretor de FotografiaMoacyr FenelonMesquitinha, Lourdinha Bittencourt, Mário Brasini
1943Moleque TiãoDiretor de FotografiaJosé Carlos BurleGrande Otelo, Custódio Mesquita, Sara Nobre
1943Tristezas Não Pagam DívidasDiretor de FotografiaJosé Carlos Burle, Ruy CostaJaime Costa, Itala Ferreira, Oscarito
1943Entra na FarraDiretor de FotografiaLuiz de BarrosArnaldo Amaral, Carlos Barbosa, Dircinha Batista
1941Barulho na Universidade (Short)Diretor de FotografiaWatson Macedo-
1941Céu azulDiretor de FotografiaRuy CostaJaime Costa, Heloísa Helena, Oscarito
1940O Culpado (Short)Diretor de FotografiaMilton RodriguesRoberto Lupo, Milton Marinho, Antonieta Matos
1940O Madeireiro (Short)Diretor de FotografiaMilton RodriguesAlice Archambeau, Milton Marinho, Antonieta Matos
1940Direito de PecarDiretor de FotografiaLeo MartenCésar Ladeira, Nilza Magrassi, Sara Nobre
1939Futebol em FamíliaDiretor de FotografiaRuy CostaJaime Costa, Dircinha Batista, Grande Otelo
1939Banana-da-TerraDiretor de FotografiaRuy CostaDircinha Batista, Oscarito, Aloysio de Oliveira
1938Tererê Não ResolveDiretor de FotografiaLuiz de BarrosAlvarenga, María Amaro, Carlos Barbosa
1937Mulher que passa (Short)Diretor de FotografiaAdhemar GonzagaOdilon Azevedo, Dulcina de Moraes, Mário Salaberry
1937O Samba da VidaDiretor de FotografiaLuiz de BarrosJaime Costa, Manoelino Teixeira, Pinto Filho
1936Bonequinha de SedaDiretor de FotografiaOduvaldo ViannaGilda de Abreu, Delorges Caminha, Conchita de Moraes
1936O Jovem TataravôDiretor de FotografiaLuiz de BarrosAlbertina, Emílio Amoroso, Manuel F. Araujo
1936Carioca MaravilhosaDiretor de FotografiaLuiz de BarrosCarlos Vivan, Nina Marina, Pedro Dias
1936Alô Alô CarnavalDiretor de FotografiaAdhemar GonzagaJaime Costa, Barbosa Júnior, Pinto Filho
1935Alô, Alô, BrasilDiretor de FotografiaAdhemar GonzagaAlmirante, Ary Barroso, Aurora Miranda |
1935EstudantesDiretor de FotografiaWallace DowneyCarmen Miranda, Barbosa Júnior, Mesquitinha
1933Como Se Faz Um Jornal Moderno (Documentary short)Diretor de FotografiaAdhemar GonzagaPery Ribas
1933Marambaia (Documentary short)Diretor de FotografiaHumberto Mauro-
1933Onde a Terra AcabaDiretor de FotografiaOtavio Gabus MendesCarmen Santos, Celso Montenegro, Augusta Guimarães
1933Ganga BrutaDiretor de FotografiaHumberto MauroDurval Bellini, Dea Selva, Lu Marival
1933A Première de Grande Hotel (Documentary short)Diretor de FotografiaHumberto Mauro
1933A Voz do CarnavalDiretor de FotografiaAdhemar Gonzaga, Humberto MauroPablo Palitos, Paulo de Oliveira Gonçalves, Elsa Moreno
1931LimiteDiretor de FotografiaMario PeixotoOlga Breno, Tatiana Rey, Raul Schnoor
1929Sangue mineiroDiretor de FotografiaHumberto MauroMaury Bueno, Ernani de Paula, Pedro Fantol
1928Braza DormidaDiretor de FotografiaHumberto MauroNita Ney, Luís Soroa, Máximo Serrano
1948Falta Alguém no Manicômio-José Carlos BurleOscarito, Vera Nunes, Modesto De Souza
1931LimiteAtua como Homem Dormindo no cinemaMario PeixotoOlga Breno, Tatiana Rey, Raul Schnoor
1929Barro HumanoAtua como Figurante No baileAdhemar GonzagaGracia Morena, Lelita Rosa, Eva Schnoor
1937Samba da VidaOperador de CamêraLuiz de BarrosJaime Costa, Manoelino Teixeira, Pinto Filho

Referências