Astyanax argyrimarginatus

Astyanax argyrimarginatus, popularmente conhecido como lambari-do-rabo-amarelo, é uma espécie de peixe caracídeo, pertencente ao gênero Astyanax. É endêmica ao Brasil, ocorrendo nos estados de Mato Grosso e Goiás.[1][2] Inicialmente, acreditava-se que estava restrita ao sistema fluvial Tocantins-Araguaia, mas um estudo de 2012 ampliou seu alcance para incluir também o Rio Xingu. Sua relativa abundância e presença em alguns locais protegidos significa que não está ameaçada de extinção.

Como ler uma infocaixa de taxonomiaLambari-do-rabo-amarelo

Estado de conservação
Espécie pouco preocupante
Pouco preocupante (IUCN 3.1) [1]
Classificação científica
Domínio:Eukaryota
Reino:Animalia
Filo:Chordata
Classe:Actinopterygii
Ordem:Characiformes
Família:Characidae
Gênero:Astyanax
Espécie:argyrimarginatus
Nome binomial
Astyanax argyrimarginatus
Garutti, 1999

Esta espécie faz parte de um complexo centrado em torno do congênere Astyanax bimaculatus. Visualmente, apresenta semelhanças com outras espécies que integram o complexo, incluindo nadadeiras avermelhadas e uma mancha umeral escura, mas sua característica mais marcante é uma faixa lateral preta com bordas prateadas brilhantes. Essa faixa é a origem do seu nome científico, que significa “borda prateada”.[3]

Taxonomia

Astyanax argyrimarginatus foi originalmente descrita em 1999 pelo ictiólogo brasileiro Valdener Garutti. Dadas as semelhanças morfológicas com vários outros membros do gênero, Garutti atribuiu a espécie ao complexo de espécies Astyanax bimaculatus, onde permanece até hoje, ao lado de várias outras espécies.[4]

Na pesquisa genética, descobriu-se que A. argyrimarginatus apresenta semelhanças cariotípicas (cromossômicas) com congêneres A. bimaculatus e A. altiparanae. Isto não é incomum, considerando que A. altiparanae está no complexo de espécies A. bimaculatus com as outras duas.[5] É improvável, entretanto, que A. argyrimarginatus seja sinônimo de qualquer espécie conhecida; pode ser identificada fortemente através da informação genética, utilizando uma técnica conhecida como código de barras de DNA.[6]

Etimologia

O epíteto específico tem origem no grego. A palavra "argyros" significa "prata" e "marginatus" significa "bordeado"; isso se refere ao forro prateado ao redor da faixa lateral preta. O nome do gênero, Astyanax, é uma alusão à Ilíada, na qual apareceu um guerreiro troiano chamado Astyanax. O motivo desta alusão não ficou claro no texto nominal, mas pode ter origem nas escamas da espécie-tipo Astyanax argentatus, que são grandes e prateadas, como uma armadura ou um escudo.[7]

Em termos de nome comum, A. argyrimarginatus é uma das muitas espécies de pequenos peixes às vezes chamados de "lambari" na América do Sul.[8]

Descrição

Um espécime preservada de Astyanax argyrimarginatus. Observe o contorno prateado na faixa lateral, que ainda é visível após a preservação

Astyanax argyrimarginatus atinge um máximo de 4.5 cm (1.8 in) comprimento padrão (SL). Existem 42–46 escamas na linha lateral, 27–31 raios na barbatana anal, e um único dente no osso maxilar; o pré-maxilar apresenta vários dentes multicúspides.[4] A cabeça tem em média 26,8% do comprimento do corpo e o olho é grande, ocupando 34–38% do comprimento da cabeça.[9]

As escamas são prateadas. As barbatanas são em grande parte vermelhas, com coloração mais intensa na barbatana caudal e nos raios anteriores da barbatana anal.[9] Há uma mancha umeral escura em formato oval horizontal e duas barras verticais marrom-escuras na mesma região do corpo. Uma mancha escura no pedúnculo caudal se estende até as pontas dos raios médios da nadadeira caudal. Talvez a característica mais marcante seja a faixa lateral escura, que possui uma borda prateada brilhante.[4]

Dimorfismo sexual

Nas barbatanas anais dos machos maiores que 7.5 cm (3.0 in), ganchos ósseos estão presentes. Esta é uma característica não incomum em toda a família Characidae.[9] Caso contrário, poucas diferenças morfométricas ou de coloração podem ser discernidas após o exame. Alguns congêneres demonstram casos mais dramáticos de dimorfismo sexual, como A. aramburui; os machos maduros apresentam os mesmos ganchos ósseos, mas também apresentam pequenas saliências carnudas na cabeça e nas escamas.[10]

Distribuição e ecologia

Espécime preservado de Astyanax argyrimarginatus, capturado na bacia do Rio Araguaia

Astyanax argyrimarginatus foi originalmente descrita na bacia do Rio Araguaia, no Brasil.[4] Sua distribuição também inclui as bacias dos rios Tocantins e Xingu, nos estados brasileiros de Goiás e Mato Grosso. O Xingu é uma adição mais recente, de um estudo da distribuição geográfica da espécie em 2012.[9] Geralmente, pode ser encontrada nas cabeceiras dos rios e em vários pequenos riachos.[8]

Os rios Araguaia e Tocantins fazem parte de um único sistema fluvial, apesar de diferentes ecótipos. O Tocantins é relativamente claro, com corredeiras e cachoeiras;[11] o Araguaia é lamacento e sinuoso.[12] O Xingu é outro rio de águas claras e atravessa as áreas pedregosas da geopaisagem brasileira.[13]

Pouco se sabe sobre a fisiologia e hábitos alimentares de A. argyrimarginatus. Outros membros do gênero são geralmente onívoros adaptáveis e não têm medo de material alóctone.[14][15]

Estado de conservação

Astyanax argyrimarginatus é considerada uma espécie de menor preocupação pela IUCN. Embora o seu habitat inclua alguns locais afetados pelo desenvolvimento humano e pela poluição, nenhuma ameaça tem importância direta para a população como um todo.[8]

Um exemplo específico de habitat ameaçado para A. argyrimarginatus é o rio Xingu, que é objeto de diversos projetos de infraestrutura. Um projeto com impacto notável no Xingu como um todo é a barragem de Belo Monte, que alterou radicalmente o fluxo do rio durante a construção.[16] A agricultura e a correspondente desflorestação também representam uma ameaça para a saúde da zona ribeirinha e não apenas para as águas.[17] Por outro lado, grande parte do Xingu está contida no Parque Nacional e Reserva dos Povos Indígenas do Xingu, que foi criado como medida de proteção para diversas culturas indígenas e para a biodiversidade da região.[18]

Referências

Notas