Alavivo

Alavivo (em latim: Alavivus; m. 376/377) foi um comandante tervíngio durante a entrada de seu povo no Império Romano. Suas origens são incertas. Aparece pela primeira vez em 376, quando liderou as negociações com o imperador Valente (r. 364–378) para que seu povo fosse assentado nos domínios imperiais.

Alavivo
Governante tervíngio
Reinadofl. 376-377
Nascimentoséculo IV
 Gótia
Morte376/377
Religiãocristianismo ariano

Em solo romano, os tervíngios sofreram muitas provações devido ao mau tratamento dos oficiais romanos. Alavivo e Fritigerno foram convidados para um banquete reconciliatório em Marcianópolis pelo general Lupicino, porém devido aos distúrbios causados por alguns godos famintos, Alavivo foi morto ou aprisionado e Fritigerno escapou por pouco.

Antecedentes

Panorama político do Danúbio Inferior no século IV. As incursões hunas resultaram na migração dos tervíngios em direção à fronteira romana no Danúbio e sua subsequente incorporação em solo romano

No final da década de 360, os tervíngios sofreram as mazelas da guerra civil. O rei (reiks) Fritigerno havia emergido como rival do juiz Atanarico e advogado da política pró-romana e pró-cristã, uma vez que, segundo o historiador Sozômeno, era católico e, portanto, opôs-se à perseguição deflagada contra os cristãos sob Atanarico.[1] Em meados da década de 370, as invasões hunas criaram novos distúrbios entre os tervíngios,[2] com os invasores pressionando-os militarmente e obrigando os grutungos, outro ramo dos godos, a dirigirem-se à fronteira tervíngia.[3]

Apesar de sua derrota na guerra civil contra Fritigerno, Atanarico ainda era comandante da maior parte dos tervíngios e reuniu um exército para confrontar os invasores. Utilizando-se disso, Fritigerno se recusou a enviar reforços para a expedição.[3] Isso levaria à derrota das forças de Atanarico, que foram forçadas a retirar-se para a Caucalândia, ao passo que também gerou uma crise decorrente da devastação huna. Essa desolação seria igualmente agravada pela devastação decorrente dos conflitos anteriores.[4]

Vida

Suas origens são incertas. Garcia Moreno sugeriu, mediante a onomástica de seu nome, que teria relações com a dinastia dos Baltos, talvez como um parente próximo de Atanarico,[5] enquanto Wolfram considerou-o pai do futuro rei Alarico (r. 395–410).[6] Ele aparece pela primeira vez no verão de 376, quando Fritigerno havia persuadido muitos dos seguidores de Atanarico a abandoná-lo e então propôs aos tervíngios que solicitassem ajuda aos romanos. Alavivo é citado como líder das negociações que se seguiram, possivelmente por possuir um estatuto aristocrático maior.[4] O historiador romano Amiano Marcelino ao fazer menção a ele estiliza-o como duque.[7] Herwig Wolfram considera que, apesar de não ser mencionado, certamente era um rei.[8]

Soldo do imperador Valente (r. 364–378)
Diocese da Trácia ca. 400

Alavivo e Fritigerno conseguiram a permissão do imperador Valente (r. 364–378), que anos antes havia auxiliado Fritigerno na guerra civil tervíngia,[9] para assentarem-se no império[10][11] como deditícios ("suplicantes" ou "rendidos"),[a] porém não antes de assegurarem que seu povo seria inteiramente convertido ao arianismo antes de cruzar o Danúbio.[12] Segundo a resposta de Valente, que por esta época estava estacionado em Antioquia, eles seriam assentados na Mésia Secunda e Dácia Ripense e receberiam assistência romana durante a migração através do rio e antes de tornarem-se autossuficientes e serem capazes de prover seu próprio sustento. Por estar em guerra com o Império Sassânida, Valente esperava poder recrutar boa parte dos tervíngios como soldados para fortificar as cidades orientais,[13] bem como se esperava que os demais seriam assentados como fazendeiros e então pagariam impostos.[14]

O plano, contudo, acabou frustrado. Os imigrantes atravessaram próximo de Durostoro (atual Silistra, na Bulgária)[15] e seu número excedeu enormemente a quantidade prevista,[b] tornando insuficiente os suprimentos recolhidos (DeVries sugere suprimentos para 50 000 pessoas[16]), situação agravada pela demora de quase dois meses para a chegada da resposta imperial do Oriente. Outrossim, tirando proveito da consequente fome sentida pelos recém-chegados, os oficiais romanos Lupicino e Máximo conseguiram muito dinheiro com a venda de miúdas quantidades de alimentos e carcaças de cachorros pelo preço da escravização de crianças tervíngias,[13] inclusive aquelas de origem nobre.[17]

Como forma de controlar os contingentes tervíngios inquietos, Lupicino ordenou que as tropas da Trácia fossem direcionadas à escolta dos imigrantes para um acampamento nas cercanias de Marcianópolis.[18] Em Marcianópolis, provavelmente no outono de 376[19] ou inverno de 376/377,[20] Lupicino convocou Fritigerno e Alavivo para um banquete reconciliatório.[c] Durante a reunião um grupo de godos famintos atacou as proximidades do assentamento e o oficial romano, interpretando como um golpe, mandou seus homens matarem os guardas dos líderes tervíngios. Segundo Jordanes, em meio a confusão, Alavivo foi morto enquanto Fritigerno escapava;[21] para Marcelino, no entanto, Alavivo foi feito prisioneiro e Fritigerno conseguiu convencer Lupicino a deixá-lo ir sob pretexto de poder acalmar seu povo.[22][23]

Notas

Referências

Bibliografia