Academia Julian

Academia Julian (em francês: Académie Julian) foi uma escola privada de belas artes, fundada na cidade de Paris em 1867, pelo pintor francês Rodolphe Julian. Tornou-se numa das mais célebres escolas de Belas Artes pelo número e qualidade dos artistas que formou durante o grande período das artes plásticas no início do século XX.[1]

Academia Julian
Académie Julian
Academia Julian
O Estúdio (1881) por Marie Bashkirtseff
FundaçãoRodolphe Julian
Tipo de instituiçãoEscola de arte
LocalizaçãoParis, França
Ativo1867–1968

História

Rodolphe Julian (1839–1907), pintor francês e fundador da Academia Julian
Cartaz publicitário sobre a primeira exposição anual dos alunos da Academia Julian (1897)

Fundada em 1867 por Rodolphe Julian e situada na Passage des Panoramas, em Paris, a Academia Julian inicialmente destacou-se das restantes escolas artísticas francesas pela particularidade de aceitar a inscrição de mulheres a partir do início da década de 70 do século XIX,[2] tornando-se numa das primeiras escolas em França a o fazer. Devido ao elevado número de alunos inscritos nos seus cursos de pintura e escultura, nos primeiros anos da sua existência a escola abriu mais dois outros ateliers, localizados na Rue du Dragon e na Rue Vivienne, expandindo também o seu empreendimento de ensino para outros géneros de artes, como as artes decorativas e a fotografia.[3] Bem sucedidos e com um leque de alunos consagrados, em 1890, a academia contava com cinco estúdios para homens e quatro para mulheres, espalhados em vários locais estratégicos de Paris.[4]

Pintura a óleo The Flowered Dress (O Vestido Estampado) de Édouard Vuillard (1891)

Devido à qualidade e fama dos seus professores, a Academia Julian adquiriu rapidamente uma certa notoriedade tanto no país como a nível internacional, apresentando anualmente as obras dos seus alunos no Prix de Roma, ao mesmo tempo em que servia de trampolim para aqueles que ambicionavam expor no Salon de Paris, Salon des Indépendants e Salon d'Automne, entre outras ilustres exposições, ou ainda se lançar numa carreira artística independente. A disciplina não era, todavia, o seu ponto forte, tendo alguns dos seus estudantes, na grande maioria deixados a si mesmos, ficado conhecidos por vários episódios considerados escandalosos durante a Belle Époque,[5] como embustes financeiros, escândalos amorosos ou ainda conflitos violentos.[6] Essa fama não impediu contudo que um grupo de jovens pintores rebeldes se tornasse célebre sob o nome de Les Nabis, a partir de 1888 e 1889.[7][8]

Vários nomes famosos da pintura ficaram associados à Academia Julian, tais como Albert André, Marcel Baschet, André Favory, Leon Bakst, Pierre Clayette, Claude Schürr, Jean Dubuffet, Marcel Duchamp, Jacques Villon, Henry Ossawa Tanner,[9] Édouard Vuillard e Henri Matisse, entre muitos outros.[10]Parte da importância da Academia Julian se deve ao facto de ter sido um ponto de atração para diversos grupos "marginalizados" na cena artística parisiense do virar do século XIX para o século XX. Para as jovens mulheres, por exemplo, a academia constituía a única alternativa aos cursos oferecidos pela École Nationale Supérieure des Beaux-Arts, já que a entrada nesse estabelecimento público lhes fora vedada até 1897. Na Academia Julian, as mulheres artistas tinham ainda a possibilidade de pintar ou esculpir corpos nus a partir de aulas ao vivo com modelos masculinos, prova de uma liberalidade intolerável aos olhos das instâncias oficiais.[11] Com a desculpa de economizar o dinheiro dos contribuintes franceses, a École também desencorajava a inscrição de estudantes estrangeiros, através da exigência de uma prova de língua francesa de reputada dificuldade. Por esses motivos, a Academia Julian atraiu um grande número de estudantes vindos de todos os países da Europa, nomeadamente da Polónia, Checoslováquia, Áustria, Alemanha, Rússia, Itália, Grécia, Reino Unido, Espanha e Portugal,[12] assim como do continente americano,[13][14][15] como foi o caso de diversos artistas brasileiros e norte-americanos,[16][17][18] ou do africano,[19][20] asiático e até da oceania.[21] Por fim, a academia acolhia não somente artistas profissionais, mas também amadores competentes e desejosos de aperfeiçoar a sua arte ou incompreendidos nos seus países de origem, onde ainda vigoravam os standards clássicos.[22]

Apesar da sua importância, a história da Academia Julian foi até hoje relativamente pouco estudada em França, não tendo sido conservado nenhum dossier dos seus artistas inscritos. Sobrevivendo após a Segunda Guerra Mundial apenas uma parte dos seus registos, nomeadamente os de algumas turmas da secção de homens, que cobrem, com lacunas, o período de 1868 a 1932,[23] atualmente, a iniciativa das pesquisas sobre esse relevante ambiente de formação artística tem sido, na sua maior parte, devida a historiadores de arte norte-americanos.[24][25]

Galeria

Artistas que frequentaram a Academia Julian (breve selecção)[26]

Artistas brasileiros que frequentaram a Academia Julian

Artistas portugueses que frequentaram a Academia Julian

Bibliografia

  • FEHER, Catherine. “New Light on the Académie Julian and its founder (Rodolphe Julian). In: Gazette des Beaux-Arts, maio/junho, 1984.
  • xx. “Women at the Académie Julian in Paris”. In: The Burlington Magazine, Londres, cxxxvi (1100), novembro, 1994.
  • HEROLD, Martine. L’Académie Julian à cents ans. França: Biblioteca Nacional, 1968. (Brochura comemorativa dos 100 anos da Academie Julian).
  • Gabriel P. Weisberg et Jane R. Becker (editores). Overcoming All Obstacles: The Women of the Académie Julian. Dahesh Museum, New Brunswick, Rutgers University Press, New Jersey, 1999.
  • LEITE, José Roberto Teixeira. Dicionário crítico da pintura no Brasil. Rio de Janeiro: Artlivre, 1988.

Referências

Ligações externas

O Commons possui uma categoria com imagens e outros ficheiros sobre Academia Julian