Abu Alabas

Abu Alabas (c. anos 770 ou 780 - 810[Nota 1]) foi um elefante-asiático trazido para o imperador carolíngio Carlos Magno pelo seu diplomata Isaque o Judeu. O presente foi do califa abássida Harune Arraxide e simboliza o começo das relações Abássida-Carolíngias. O nome do elefante e os eventos da sua vida estão gravados nos Annales regni Francorum carolíngios,[1][2][Nota 2] e ele é mencionado no Vida de Carlos Magno (Vita Caroli Magni) de Eginhardo.[3][Nota 3] No entanto, não existem referências ao presente ou às interações com Carlos Magno nos registos Abássida.[4]

Abu Alabas
Informações
EspécieElefante-asiático
SexoMacho
Nascimentoc. anos 770 ou 780
Califado Abássida
Morte810 (com 20 ou 30 anos)
Perto de Münster ou Wesel, Alemanha

Relatos contemporâneos

Do Oriente à Europa

Abu Alabas provavelmente nasceu durante os anos 770s ou 780s (baseado na idade média de maturidade de um elefante-asiático) e foi trazido para Bagdá, a cidade capital do Califado Abássida, pelo diplomata de Carlos Magno, Isaque, o Judeu,[2][5] que junto com dois outros emissários, Lanfrido e Sigismundo,[2] tinham sido enviados ao califado sob as ordens de Carlos Magno. Que o único membro sobrevivente do grupo, Isaque, tenha sido enviado de volta como o elefante foi visto como notícias avançadas para Carlos Magno dos seus dois emissários que conheceu em 801: um foi enviado pelo califa Harune Arraxide, outro por Abraão (Ibraim ibne Alaglabe), que foi governador de África.[2][6] Carlos Magno então mandou um homem para Ligúria (a província à volta de Génova) para comissionar uma frota de navios para levar o elefante e outros bens.[2]

Pesquisadores têm especulado em Isaque e na rota do elefante por África: Isaque e o elefante começaram a caminhada de volta seguindo a costa egípcia para Ifríquia, governada por Ibraim ibne Alaglabe que tinha comprado a terra de Arraxide por 40 mil dinares anuais. Possivelmente com a ajuda de Ibrahim na cidade capital de Cairuão (agora na Tunísia), Isaque navegou do porto (possivelmente Cartago,[7] agora na Tunísia) com Abu Alabas e viajou o resto da distância para a Europa pelo Mar Mediterrâneo.[8]

De qualquer forma, a leitura estrita do texto histórico Annales regni Francorum é que "Isaque o Judeu voltou de África com o elefante" (Isaac Iudeus de Africa cum elefanto) e desembarcou em Portovenere (perto de Génova) em outubro de 801.[1][2] Os dois passaram o inverno em Vercelli, e na primavera ele começaram a marcha sobre os Alpes para a residência do Imperador em Aachen, chegando a 20 de julho de 802.[2][5][9] Abu Alabas era um elefante adulto crescido.[10]

Morte

No ano 810, Carlos Magno deixou o seu palácio e montou uma campanha querendo envolver-se com o Rei Godofredo da Dinamarca e a sua frota que invadiu e saqueou a Frísia. Carlos Magno tinha atravessado o Rio Reno e permaneceu num local chamado "Lippeham" à espera de tropas por três dias, quando o seu elefante repentinamente morreu.[11][12] Na suposição tácita que Abu Alabas estava com Carlos Magno quando morreu, alguns comentadores modernos aventuram que a besta tinha sido trazida para servir como um elefante de guerra.[5][13][14]

Local de morte

A localização de "Lippeham" é uma questão de conjetura,[15] mas tem sido colocado na "boca do Rio Lippe"[15] (a sua confluência com o Reno), em outras palavras, algures próximo da cidade de Wesel.[16][17] A alegação data de pelo menos 1746,[18] (ou 1735)[19] quando J. H. Nünning e um colega publicaram uma notificação que "Lippeham" seria para identificar com Wesel;[20] e que um osso colossal foi encontrado na área, na posse do seu museu afiliado, era plausivelmente uma parte dos restos do elefante Abu Alabas.[21] Outro osso gigante foi encontrado no Rio Lippe entre uma captura de peixe no herrschaft de Gartrop no início de 1750, e também foi reivindicado como um peça de Abu Alabas.[19]

Um detrator a esta alegação é Richard Hodges que o coloca em Charneca de Luneburgo, que não é próximo do Reno.[22]

Relatos modernos embelezados

Detalhes de exibição e morte

Os Analles regni Francorum contêm apenas relatos curtos sobre o transporte de Abu Alabas (801),[1] a sua entrega ao Imperador (802)[9] e a sua morte (810). Mas escritores modernos têm dados vários relatos embelezados. Alguns indicam que quando Abu Alabaschegou, ele marchou por várias terras na Alemanha para o espanto dos espectadores,[14] que ele aparecia em "Speyer, Estrasburgo, Verdun, Augsburgo, e Paderborn" como exibição ostensiva do poder do imperador,[13] e que eventualmente se alojou em Augsburgo no que é agora sul da Baviera.[14]

Alguns detalhes adicionais sobre a morte do elefante, dizendo que ele estava nos seus quarenta e já sofria de reumatismo quando acompanhou Carlos Magno na campanha pelo Reno indo à Frísia.[13] Segundo essas fontes, num período de "tempo frio e chuvoso", Abu Alabas desenvolveu um caso de pneumonia.[13][14] Os seus guardiões foram capazes de transportar a besta até Münster, onde ele colapsou e morreu.[13]

Elefante branco

Algumas obras modernas indicam que Abu Alabas era albino - literalmente um elefante branco - mas a base para esta alegação está em falta. Um exemplo antigo que dizia que Abu Alabas era um "elefante branco" ocorre num título escrito por Willis Mason West (1902).[23] Em 1971, Peter Munz escreveu um livro destinado para leitores populares que repetia a mesma alegação do "elefante branco", mas um avaliador reportou isto como um "deslize" dado que "não existem provas" que ele conheça para o substanciar.[24] Menção do "elefante branco" também aparece erroneamente no título do catálogo publicado da exibição Aachen de 2003: Ex oriente: Isaak und er weisse Elefant, no entanto, nesta publicação está um artigo contribuinte por Grewe e Pohle que anexa um ponto de interrogação: "Entre os presentes famosos para Carlos Magno estava um elefante (branco?)".[25]

Espécie de Abu Alabas

Um número de autores afirmam que Abu Alabas era um elefante-indiano,[13] embora outros conjuram isto como uma pergunta aberta com o elefante-africano sendo a uma possibilidade distinta.[26] Nenhuma fonte primária identifica a sua espécie diretamente.[27]

Argumentos para Abu Alabas ter sido um elefante-indiano incluem que fontes Abássidas como Al-Jāḥiẓ e Almaçudi gravam uma crença que elefantes-africanos não são domáveis.[27] Outra pista vem do monge irlandês Dicuil que menciona Abu Alabas na sua descrição da índia no seu trabalho geográfico De mensura orbis terrae ("Sobre a Medição do Mundo") em 825.[27][Nota 4] Uma inicial capitular B de uma cópia do Comentário nos Salmos de Cassiodoro feita na Basílica de Saint-Denis no primeiro trimestre do nono século (agora Paris, BnF lat. 2195) incorpora uma cabeça de elefante.[28] Um retrato realista de um elefante asiático sugere que o artista tinha visto Abu Alabas.[29]

Provas de que Abu Alabas fosse um elefante-africano incluem a rota pela qual ele chegou na Europa, que foi via a Tunísia.[27] Também, uma placa carolíngia sobrevive que foi feita de marfim de um elefante-africano e era de uma fonte contemporânea. O marfim era amplamente usado na arte carolíngia, mas a maioria deste material era reutilizado de fontes romanas.[27] Esta placa em particular, uma representação da Virgem Maria era demasiado grande para ter vindo de uma presa de um elefante-indiano,[27] medindo 22cm no seu lado mais longo.[30] Datação por radiocarbono mostra que o marfim na placa não é de origem antiga.[27] Para artistas carolíngios terem acesso ao novo marfim é tão fora do normal que faz Abu Alabas uma possível fonte deste material.[27]

Uma curta história pelo autor alemão-neozelandês Norman Franke conta a biografia do elefante do seu ponto de vista.[31]

Notas

Referências